O Fim da Infância, de Sir Arthur C. Clarke, não trata, como pode indicar o título, da infância, ao menos não da maneira como a entendemos. Obra seminal da Ficção Científica "Hard", O fim da infância traz uma "invasão" alienígena benevolente, sem qualquer fazer disso uma trama de resistência contra o invasor, ou uma trama de conspiração, como na série de TV "V", ou a série 3 de Torchwood, "Children of Earth" (ambas britânicas, diga-se de passagem).
Ao invés disso, Clarke usa o contato da humanidade com os misteriosos "Senhores Supremos" como pano de fundo para a discussão sobre o lugar do homem no universo, seu futuro, a importância da cultura e da ciência em nossas vidas, e seu fim. Publicado originalmente em 53, O fim da infância é um dos livros da fase mais esotérica de Clarke, tendo um dos raros exemplos de "misticismo" em sua obra que não é explicado como "ciência suficientemente avançada". (Embora talvez o seja, a julgar por The Mad Mind... Não dá para saber se a Mente Cósmica não surgiu da mesma forma que a Mente Insana).
Com uma forma bem tradicional, Clarke usa de uma das estruturas mais básicas e clássicas da narrativa, dividindo o livro em prólogo e três atos (introdução, conflito e resolução), embora cada ato possa ser divido em seus próprios três atos. Notavelmente, O fim da infância carece completamente de um epílogo. Embora peque levemente nos diálogos, um tanto fracos, como é infelizmente comum no gênero, as descrições e a mensagem de Clarke são altamente impactantes. seja em sua "não-comparação" dos novos humanos - os últimos humanos- com cadáveres, ou na maneira como o líder dos Senhores Supremos demonstra a insignificância da sabedoria humana perante a imensidão do cósmos - e posteriormente sua manifestação de sincera preocupação de que a humanidade não siga pelo mesmo caminho - Clarke não peca, não falha e não corta pedaços.
digamos que eles tinham motivos para se esconder (arte de Wayne Barlowe). |
O ato seguinte lida com a humanidade um tanto apática, com todas as suas necessidades atendidas pelos senhores supremos, e o desenvolvimento de uma "nova humanidade", reviravolta esperada pelos Senhores Supremos. Dois personagens servem de foco aqui : Jeffrey Greggson, o primeiro dos novos homens, e Jan Rodricks, um jovem movido a necessidade de conhecer o espaço. É aqui que o livro encontra sua força; O desenvolvimento dos dons de Jeff, e seu crescente isolamento da humanidade contrastam com a representação triste da sociedade dos senhores supremos presenciada por Jan. De um lado, temos Jeff e os outros pós humanos emergentes, tão sublimados que o mundo físico não lhes tem mais significado, e do outro, o planeta natal dos senhores supremos, onde, apesar de todo o conhecimento e tecnologia, vemos uma espécie que está tão sem rumo, que a extinção lhes parece agradável.
Antes da total alienação de Jeff, é em seus sonhos que se vê a grande inspiração de Clarke, pois a viagem mental de Jeff, por planetas distantes e fantásticos remete de imediato ao livro "Star Maker", de Olaf Stapledon; e é na enigmática mente cósmica do 3º ato que se vê a manifestação máxima dessa inspiração. Enquanto Jeff viaja pelo cosmo em seus sonhos, enquanto ainda mantém contato com seus pais, o narrador de Star Maker explora mentalmente o universo. Mas se Jeff o faz como preparação subconsciente para unir-se a mente cósmica, o narrador em Star Maker torna-se a mente cósmica no término de sua viagem.
Esse ato final inicia-se quando Jan retorna a Terra, após 80 anos, que, graças a dilatação do tempo por viajar próximo a velocidade da luz, para ele foram apenas alguns meses, passados no lar dos Senhores Supremos. Ao retornar para a Terra, Jan, sem motivos para esticar sua existência ainda mais, torna-se o "documentarista" do fim. Em um dos textos mais belos da ficção científica, os Senhores Supremos narram a Jan o fim da humanidade, resumido tristemente em uma única frase : "Era um fim que nenhum profeta jamais previra... um fim que repudiava igualmente o otimismo e o pessimismo".
A ideologia de Clarke, em sua juventude, não meramente transparece, mas permeia o texto. Independente de concordar ou discordar do autor, o fim da humanidade, não, da Terra, como descrito em o Fim da Infância é de fato ambívalente : por um ponto, é o fim, e não há dúvidas disso. Por outro, em seus espasmos de morte, a humanidade gerou algo superior, e sem qualquer comparação com o que antecedeu-a. Alguns podem ver esse final como sendo o mais deprimente da história. Outros, podem vê-lo como algo a ser almejado; inevitável que cause impacto, tamanho o choque que causa, com a expectativa comum de que, de alguma maneira, o "herói" salve o dia.
Eu ainda nem comecei a ler Blindsight e você já está resenhando "O fim da Infância", assim não dá. Brincadeiras a parte, não existe "velho" e nem "ultrapassado" em ficção científica, não? Um livro da década de 20 vira filme Blockbuster esse ano...o Planeta dos Macacos do original francês da década de 50, até hoje é revisitado e agora o menino Pedro , fala de Arthur C. Clarke! Viva a literatura de qualidade!
ResponderExcluirHeh, se eu continuar lendo no meu ritmo atual, semana que vem eu resenho Duna! e depois Forever War! MWAHAHAHAHAHAHHAHAHHAHAH
ExcluirOu algumas coisas obscuras, tipo Man of Many Minds, Someone Comes to Town, Someone Leaves Town, ou Butcher Bird...
Bom post!
ResponderExcluirNão conhecia esse livro do C Clark.
Parece ser interessante embora FC hard por vezes mace um bocado...
Espero por Dune!
:)
Abraço
Infelizmente li esse """livro""" ano passado, dava pra fazer uma tese sobre tudo que ele tem de errado, mas a cereja do bolo é quando os capirotos do espaço mostram porque os humanos não podem ir para o espaço, é simplesmente a coisa mais idiota publicada em toda a historia da humanidade.
ResponderExcluirDevo começar a ler a série no ano que vem.
ResponderExcluirAcho esse filme muito macabro coisa do inimigo aquilo la nem se quer parece cm um alienígena e o inimigo vigiem gente isso q ele quer fazee no mundo e já tá acontecendo .. Deus é mais
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