domingo, 17 de junho de 2012

Crítica: Prometheus

 Depois de 30 anos fazendo dramas históricos, Ridley Scott finalmente retornou ao gênero que lhe alçou ao sucesso, finalmente trazendo algo novo para a Ficção Científica e seu híbrido com o horror na franquia Alien. Mas infelizmente, o afastamento da FC parece ter sido longo demais. Prometheus deveria ser um retorno glorioso ao universo criado em 1979 junto com o artista suiço H.R. Giger, mas o que Scott entregou após anos de espera é apenas uma casca vazia do original, uma crisálida deixada para trás - uma belíssima crisálida, mas ainda assim oca e abandonada.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Crítica: JCVD

Existem certos atores dos quais é inviável esperar um trabalho de qualidade. Encabeçando essa categoria certamente estão os astros do cinema de ação dos anos 80, como Steven Seagal, Dolph Lundgren, e o eterno Jean Claude Van Damme. Imaginem então um drama estrelado por este último. Não parece algo com muitas chances de ser bom, ou sequer "assistível", mas JCVD (Bélgica, 2008) demonstra como Van Damme só precisa do roteiro certo e distanciamento da pancadaria para revelar-se um grande ator - ou talvez o filme seja tão bom por ele não estar atuando.

Em JCVD, Van Damme vive uma versão ficcional, mas nem tanto, de si mesmo. Um ator acabado, que não consegue papéis decentes, afundado em dívidas e perdido no meio do processo de custódia da filha, e que retorna a sua cidade natal de Bruxelas para "por sua vida em ordem". A situação parece estar no fundo do poço, e só piora quando Van Damme se vê no centro de um assalto a um posto do correio enquanto tenta fazer uma pequena transferência para pagar o seu advogado.

Em um filme normal do "músculo de Bruxelas", a situação seria resolvida na base de socos e pontapés, e Van Damme sairia do assalto um herói. Não aqui, onde sob a direção do franco-tunisiano Mabrouk El Mechri a situação se torna uma maneira perfeita de expor a diferença entre o Van Damme "astro" dos anos 80, e a figura patética que o verdadeiro ator se tornou. O que ocorre é ele pateticamente tentando resolver a situação, enquanto atua como negociador para os criminosos - e é visto pela polícia como sendo o líder dos assaltantes. Mas nada demonstra mais o quanto o "astro" e o "ator" são diferentes quanto a cotovelada patética, dada no lugar da elaborada sequência de chutes planejada na cabeça de Van Damme, quando a oportunidade de "ser o herói" finalmente surge.

O roteiro de El Mechri e Frédéríc Bénudis deu espaço para que o antigo astro de ação barata fizesse uma atuação comovente - e dolorosa - sobre sua própria decadência, e sobre como Hollywood e o culto ao sucesso destroem vidas. Em um toque audaz que só se vê no cinema europeu, o filme se interrompe no auge da ação para um monólogo  de sete minutos que viola completamente qualquer ilusão de realidade da situação. Um monólogo direto do protagonista para o espectador, em que Van Damme expõe todos os seus fracassos e dificuldades profissionais e pessoais, dos múltiplos casamentos até a luta contra as drogas, com um grau imenso de sinceridade.

JCVD foi indicado a Palma de Ouro - algo que nunca se esperava de um filme do Van Damme - e talvez seja o único filme legitimamente bom na carreira do "Grande Dragão Branco". Não é difícil de achar nas locadoras. Isso deveria ter sido um retorno comovente para o ex-super star, mas infelizmente Jean Claude já retornou aos filmes de ação baratos. Uma lástima.



segunda-feira, 4 de junho de 2012

500 Miles, pela equipe de Doctor Who

Para quem, como eu, adora Doctor Who, um vídeo simplesmente adorável da equipe das séries 2 à 4 de Doctor Who dançando I would walk 500 Miles. Destaque para o Ood Sigma dançando. Cortesia da Cindy, do blog Disk Chocolate (link na caixa de links do blog! Vão lá, agora!).

E agora fiquei com mais vontade de ver os episódios do 3º e do 4º doutor....

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Crítica: Branca de Neve e o Caçador


Tem filmes que seriam melhores com outro título e com algumas pequenas alterações no roteiro. Obras que se propõe como adaptações ou releituras, mas que tomam tantas "liberdades criativas" que se tornam merecedoras de um nome completamente novo, e este é definitivamente o caso de "Branca de Neve e o Caçador". Embora seja um filme de fantasia sólido, e não "violente" o material de origem como certos outros filmes fizeram, é fato que o resultado é muitíssimo diferente do conto de fadas dos irmãos Grimm ou do clássico da Disney. Não precisamente em trama - que se manteve essencialmente a mesma - mas em tom. Coisa similar ocorreu com Beowulf, também um bom filme, mas péssima adaptação do texto mais antigo da língua inglesa.


Não que seja exatamente um comportamento novo de Hollywood tomar apenas a base de uma história, descartando os elementos marcantes de outras leituras. Afinal, Sherlock Holmes é um exemplo claro de como isso pode dar muito certo, embora "Branca de Neve e o Caçador" não tenha tanta sorte assim, e termina sendo uma versão fraca do que se propõe, mesmo sendo forte quando ignora-se o fato de ser uma adaptação.

Os problemas começam pela protagonista: não apenas Branca de Neve tem poucas falas, mas a atuação inexpressiva de Kirsten Stewart torna difícil manter interesse pela heroína, ainda mais quando Charlize Theron está "deliciosamente canastrona" como a Rainha Ravenna. Não ajuda a falta de profundidade da heroína. Enquanto o Caçador (Chris Hemsworth, vulgo Thor) recebe uma profundidade que nunca teve antes (se resumindo a não matar a princesa e levar um coração de cervo ao invés do dela), Branca é boa e pura e é a vida, e mais nada.

Se o filme talvez peque pelas liberdades criativas, como fazer da Branca de Neve quase uma metáfora para Joanna D'Arc, terminar o filme em uma batalha definitivamente épica, e adicionar um oitavo anão (embora o conto original fosse um número indefinido de anões), "Branca de Neve e o Caçador" se salva pela beleza visual. O roteiro de fato é fraco, confuso até, e as atuações poderiam ser melhores, mas as tomadas impressionantes de câmera, a maneira como o filme "traz a vida" cenários e criaturas fantásticas, e as referências a filmes de fato primorosos de fantasia em si já fazem valer o ingresso. Quem assistiu "História sem Fim" ou "Princesa Mononoke" certamente vai reconhecer algumas cenas. E o filme tem um bom equilíbrio entre o "real" e o "fantástico", coisa que Hollywood parece estar ficando cada vez melhor em manter.

O problema é o quão marcado na consciência coletiva a versão da Disney está - e pudera, não apenas foi o primeiro longa em animação, mas mesmo ignorando a importância histórica, é em si um trabalho de mestre. Coisa que esta leitura do clássico dos irmãos Grimm está longe de ser. E é claro, a tentativa de passar Kirsten Stewart como sendo mais bela do que Charlize Theron é quase uma piada. Pode não ser um bom "Branca de Neve", mas é certamente um bom filme de fantasia.