A distribuição e o reconhecimento de filmes é uma coisa
quase que engraçada, graças a economia e os interesses dos estúdios: é
incrivelmente fácil encontrar filmes americanos, um pouco menos fácil os
ingleses e (bizarramente) brasileiros, aí o restante do cinema europeu. Agora,
quando se trata do cinema asiático, é raro encontrar por aqui algo que não seja
um filme de terror, ou um filme de artes marciais. Duas coisas que “A Batalha
dos Três Reinos” (Chi Bi, China, 2008) definitivamente não é.
Chi Bi é o retorno do renomado diretor de filmes de ação
John Woo ao cinema chinês, e sua primeira empreitada em produzir um drama
histórico. No início do século III, o primeiro ministro da China, Cao Cao
(Zhang Fengyi) convence o jovem imperador Xian de Han (Wang Ning, com apenas
uma cena) a mobilizar todo o exército imperial para capturar o senhor feudal
Liu Bei (You Yong). Para contornar a situação, o estrategista das forças de Liu
Bei, Zhuge Liang (Takeshi Kaneshiro) se dirige ao regente da província de Wu,
Sun Quan (Chang Chen) e seu estrategista, Zhou Yu (Tony Leung Chiu-Wai). E nos
penhascos vermelhos de Chi Bi, as forças desses três generais se encontram, em
uma batalha que decidirá o futuro da China.
Mesmo sem experiência na direção de épicos, Woo não
decepciona: a belíssima composição de cena que lhe deu destaque nos filmes de
ação dá as caras na composição tanto das cenas políticas quanto das batalhas.
Sem o “balé” que marca os filmes de Wu Xia (vulgo o “kung-fu voador” as cenas
de guerra de Chi Bi são ainda mais tragicamente belas em sua seca brutalidade. A
maneira que o filme aproveita o imenso número de figurantes e as flâmulas esvoaçantes
nas formações dos exércitos, junto com as cores vivas – e naturais, coisa que
está cada vez mais rara nos filmes de Hollywood – é em si uma obra de arte.
Porém, por mais belo que Chi Bi seja, é um filme para
poucos: com um tópico incomum para o cinema ocidental e sem os chamarizes da
maior parte dos (parcos) filmes chineses que vêm para o Brasil, Chi Bi é um
filme lento e as vezes cansativo, quando não está nas cenas de ação. E para
quem não está preparado, o áudio em mandarim pode ser desconcertante, sendo
trabalhoso até para reconhecer nomes. Não ajuda que alguns dos atores são bastante parecidos - e não digo isso como em "são todos chineses, todos parecem", mas sim no sentido de serem parecidos como Natalie Portman e Keira Knightley em "A Ameaça Fantasma". Felizmente esse problema só ocorre com personagens secundários.
Mas o problema maior com o filme não é nada no filme em si,
mas sim na versão disponível no Brasil: a versão asiática de Chi Bi eram dois
filmes de 2h20, enquanto a versão “internacional” é apenas um filme de 2h30 –
dez minutos destes de narração estabelecendo o contexto histórico. Ou seja,
metade do filme foi cortado fora. E este "detalhe" é inaceitável. Não apenas é mais de metade do filme que "caiu", mas as algumas das cenas mantidas tinham menos importância do que o que caiu fora. Grande gafe neste aspecto...
Parece interessante... No passado, n~ao curtia muito tematicas niponicas, mas mudei a opiniao quando li e assisti ao Xogum... Fascinante...
ResponderExcluirQue "tiro no pé" das produtoras brasileiras, canibalizando partes importantes desse filme, como já fizeram em tantas outras vezes. Realmente o que mais me chama atenção nesse filme do Woo, concordo com você, é o aproveitamento do elemento "humano" na composição das cenas, quase um Spartacus Chinês, indo em direção contrária ao atual estilo dos filmes Americanos.
ResponderExcluirAinda não assiti o filme, mas pelo seu texto me parece bastante interessante
ResponderExcluirHmmm, já ia partir pra ação e assistir esse filme, mas se não conseguir a versão original (e com legendas, afinal, meu Mandarim não é muito desenvolvido), não vou perder meu tempo vendo outra Mutilação tal "Samurai X".
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