Muito antes de Friendship is Magic, houve isso... |
Faz algum tempo, eu falei de uma das mais amadas e odiadas linhas de brinquedos dos anos 80: My Little Pony (no Brasil, Meu Querido Pônei), lançada pela Hasbro entre 1982 e 1993. No texto, comentei brevemente sobre as gerações posteriores da linha, culminando no mega-hit My Little Pony: Friendship is Magic. Antes que possa tratar do imenso sucesso de Lauren Faust, lançado em 2009, temos que discutir como a franquia chegou onde está - e para isso, temos que tratar de sua longa degeneração, que começa com a série de TV My Little Pony Tales, em 1992 e a primeira reestruturação geral da linha, vulgo a geração "1,5" e culmina em New Born Cuties, a terrível série de animação em Flash que promovia a breve "geração 3.5" de equinos grotescamente deformados.
Não há muito a ser dito sobre cada uma dessas fases da linha, então podemos tranquilamente cobrir vinte anos de My Little Pony em um único artigo - ao contrário dos seus irmãos transformáveis ou seus irmãos nas forças armas, pouca coisa realmente mudou na linha depois do fim de My Little Pony & Friends,
MY LITTLE PONY TALES: a geração "1,5".
Em 1992, a Hasbro enfrentava um crescente problema de vendas com a franquia. Com o envelhecimento do público original da franquia e as mudanças na sociedade, a terra encantada da "Ponyland" não fazia mais sucesso. Grande parte das fãs que ainda acompanhavam a linha, no crescente mercado de colecionadores agora entravam na adolescência (ou já estavam nela), e seus interesses tinham mudado de histórias de fantasia para interesses mais mundanos. As reprises de My Little Pony & Friends não faziam mais sucesso. Para resolver isso, mudanças tinham que ser feitas - mudanças que culminaram em My Litlle Pony Tales, produção da Sunbow e da AKOM.
Ace, Teddy e Lancer - essa literalmente foi a única imagem que eu achei com todos os três em qualidade passável. |
Além das sete, o elenco central era fechado pela professora Miss Hackney e um trio de rapazes: o "badboy" impulsivo e brigão Teddy (interesse romântico de Sweetheart), o atlético, confiante e galanteador Ace, com uma paixão não correspondida por Melody e o tímido e gentil Lancer, um rato de biblioteca com uma queda nada disfarçada por Bright Eyes e uma tendência a tomar partido das meninas (mesmo quando estão erradas - embora no fim sempre estivessem certas) para impressioná-la.
Apesar dos avanços de caracterização e da tentativa de ser mais do que só "uma série fofinha", My Little Pony Tales fracassou em alavancar a linha novamente, e por mais bem intencionada que fosse, não escapava do tom paternalista, fútil e ingênuo que a maioria dos desenhos para meninas tinham. De certa maneira, todas as alterações no tom que a série fez seriam retomados em Friendship is Magic - mas sem o paternalismo que marcou Tales, que tratava sua audiência como sendo incapaz de lidar com conflito interpessoal ou com uma narrativa que fosse além de "fofura" e "meninos tee-hee". Com alguns playsets e figuras novas baseadas na série, a linha minguou até 1993, rapidamente e silenciosamente desaparecendo das prateleiras.
Em 1997, a Hasbro reviveu a linha com uma cara nova. Com o subtítulo Friendship Gardens, a segunda geração de pôneis tinha uma cara muito diferente de suas "antepassadas". Mais altas e magras, com pescoços esbeltos e corpos menos rechonchudos, as pôneis de geração dois estavam mais para "meu pequeno cavalo" do que "meu pequeno pônei". "Friendship Gardens" foi uma anomalia para a linha: sem desenho, quadrinhos, livretos ou joguinhos, a única ficção que a linha tinha eram os textos descritivos nas embalagens e um CD-Rom interativo homônimo.
Friendship Gardens mantinha a estética de "contos de fada" da linha original, mas podava muito de seus elementos mais fantásticos. Nada de pegasus, unicórnios, magia ou dragões em seus dois primeiros anos - e com o cancelamento da linha no mercado internacional em 1998, isso basicamente significava que, salvo para o mercado europeu, a linha se resumia a pôneis terrestres e castelos que elas não poderiam ter construído.
Em termos práticos, os brinquedos não diferiam muito da primeira geração: embora maiores, eram mais leves e mantinham a mesma falta de articulação e o mesmo foco em crinas "reais" que suas antepassadas. A grande diferença era a adição de uma junta no pescoço - o que dava um grau maior de versatilidade aos brinquedos.
A distinção entre as sublinhas se dava primariamente pelos acessórios, centrados em temas (como hobbies, casamentos ou realeza) ou pelos extras (como bolsinhas, asinhas, bebês e efeitos de luz e som). Algumas poucas figuras eram articuladas ("Magic Posable") ou tinham movimento como parte de um gimmick (Magic Action). Com vendas baixas e relegada ao esquecimento, a linha foi cancelada em 2003 para dar lugar a uma nova encarnação de My Little Pony: G3
Lançada em 2003, a terceira linha de My Little Pony novamente dava uma roupagem nova à linha, com proporções exageradas e mais "fofas". O cenário agora era a cidade de Ponyville nos arredores do Castelo das Celebrações. Enquanto G2 carecia de ficção e G "1.5" mal tinha uma linha de brinquedos, o marketing aqui seguiu tudo direitinho... mais ou menos.
Dirigida por Vic Dal Shele e John Grusd, da SD Entertainment, a série de filmes para vídeo da linha novamente tinha um núcleo central de personagens ao redor dos quais se centrar: as amigas da desastrada Minty, obcecada com "tudo que é verde", entre elas a festiva Pinkie Pie, maniaca por rosa; a vaidosa e madura Rainbow Dash, que não é obcecada por cor nenhuma; a artística Toola-Roola, a festeira e irresponsável princesa Rarity e a sábia, madura e responsável Kimono.
Embora acertasse em ter um desenho para promover a linha, a Geração 3 se aproximava do auge do paternalismo e da falta de boa vontade na produção de ficção para a série. Conflito era praticamente inexistente após os dois primeiros especiais, e onde havia um conflito, esse era facilmente resolvido sem esforço algum. As personalidades eram mais sugestões de personalidade do que personagens desenvolvidos, e onde em Tales as amigas por vezes se desentendiam, aqui a mera noção de desentendimento não existia fora do primeiro especial. A animação pobre para a época e os roteiros fracos não ajudavam: a linha estava em um de seus pontos mais baixos. Conforme a linha avançava, os roteiros regrediam, ao ponto do conflito central de um dos especiais ser "queremos fazer uma festa surpresa" e a resolução dele ser... o alvo da festa nunca descobrir, nem suspeitar, nem se sentir deixada de lado - por que não era aniversário dela.
Grande parte dos brinquedos mantinham o mesmo padrão de g2, mudando apenas o design para combinar com o novo visual mais cabeçudo e de olhos grandes da nova geração. O número de sublinhas explodiu, mas pouco do que era oferecido de novo era realmente diferente: a maior parte se resumia ao tema dos acessórios.
Em 2007, a Hasbro mudou o grupo central da linha, retirando a protagonista Minty e dando lugar a outro grupo de amigas: Toola-Roola, Sweetie Belle, Scootaloo, Cherilee, Starsong, Pinkie Pie e Rainbow Dash. No ano anterior, a empresa lançava (ainda com Minty ao centro) a primeira grande novidade: a sublinha Ponyville Ponies. Focada em playsets para competir com a linha Polly Pocket, da Mattel, a sublinha trazia pequenas miniaturas de plástico, sem crinas "de verdade" e sem articulações Vários itens da linha foram lançados como brindes do McDonald's, e ao fim do ano seguinte, a Hasbro repaginava a linha inteira partindo do visual de Ponyville Ponies.
Ainda sob o logo da terceira geração, a repaginação visual de 2009, apelidada pelos fãs de G3.5, pegava as proporções já exageradas mantidas desde 2003 e as levava ao extremo. Com cabeças imensas, membros bulbosos e corpos diminutos, os pôneis de 2009 à 2010 pareciam tudo, menos equinos.
O foco ainda era nas sete amigas do fim de G3, mas o pouco de personalidade exibido nos curtas digitais e nos filmes para vídeo desaparecia por completo. Em seu lugar, um hepteto de clones com a mesma personalidade alegre e boba, sem nenhum sinal de distinção ou independência, animadas mal e porcamente em Flash pela SD Productions. Se em G3 o conflito era quase inexistente, aqui ele inexiste por completo. A única exceção a esse padrão estava na única produção de G3 que não se resumia a um curta para a internet: My Little Pony: Twinkle Wish Adventure, que trazia as sete amigas em uma aventura para resgatar a estrela viva Twinkle Wish das garras da dragoa Winsey Weatherbee.
Tirando as mudanças de design, como os cabeções e as proporções esdrúxulas, nada realmente mudou nos brinquedos de G3.5, mas essa mudança de proporções é particularmente palpável. Ao fim de 2009, com as vendas em queda, a Hasbro tenta outra mudança para salvar a linha do fracasso. Sob o subtítulo Newborn Cuties, a nova sublinha focou em um público ainda mais jovem, com versões bebês das personagens centrais e narrativas ainda mais simples. Com apenas um DVD de dois episódios pelo estúdio Kunoichi, a parca produção de Newborn Cuties não contava sequer com animação facial.
No começo de 2009, com a marca novamente falida, a Hasbro decide repaginar a série por completo e deixa o trabalho nas mãos da animadora Lauren Faust. Com um currículo notável que incluía trabalho em obras como A Mansão Foster para Amigos Imaginários, As Meninas Superpoderosas, O Gigante de Ferro e Gatos Não Sabem Dançar, Faust se empenhou em livrar a franquia - e o gênero de animação em si - do estigma associado a séries para meninas: a ideia de que eram todas fúteis, vazias e bobas. O resultado, My Little Pony: Friendship is Magic fica para outra hora.
Friendship Gardens: Geração 2
Friendship Gardens mantinha a estética de "contos de fada" da linha original, mas podava muito de seus elementos mais fantásticos. Nada de pegasus, unicórnios, magia ou dragões em seus dois primeiros anos - e com o cancelamento da linha no mercado internacional em 1998, isso basicamente significava que, salvo para o mercado europeu, a linha se resumia a pôneis terrestres e castelos que elas não poderiam ter construído.
Lightheart: um dos raros pôneis posáveis de g2. |
A distinção entre as sublinhas se dava primariamente pelos acessórios, centrados em temas (como hobbies, casamentos ou realeza) ou pelos extras (como bolsinhas, asinhas, bebês e efeitos de luz e som). Algumas poucas figuras eram articuladas ("Magic Posable") ou tinham movimento como parte de um gimmick (Magic Action). Com vendas baixas e relegada ao esquecimento, a linha foi cancelada em 2003 para dar lugar a uma nova encarnação de My Little Pony: G3
Celebration Castle e G3
Nova Linha, novo logo. |
Dirigida por Vic Dal Shele e John Grusd, da SD Entertainment, a série de filmes para vídeo da linha novamente tinha um núcleo central de personagens ao redor dos quais se centrar: as amigas da desastrada Minty, obcecada com "tudo que é verde", entre elas a festiva Pinkie Pie, maniaca por rosa; a vaidosa e madura Rainbow Dash, que não é obcecada por cor nenhuma; a artística Toola-Roola, a festeira e irresponsável princesa Rarity e a sábia, madura e responsável Kimono.
Minty: de protagonista a nada. |
Embora acertasse em ter um desenho para promover a linha, a Geração 3 se aproximava do auge do paternalismo e da falta de boa vontade na produção de ficção para a série. Conflito era praticamente inexistente após os dois primeiros especiais, e onde havia um conflito, esse era facilmente resolvido sem esforço algum. As personalidades eram mais sugestões de personalidade do que personagens desenvolvidos, e onde em Tales as amigas por vezes se desentendiam, aqui a mera noção de desentendimento não existia fora do primeiro especial. A animação pobre para a época e os roteiros fracos não ajudavam: a linha estava em um de seus pontos mais baixos. Conforme a linha avançava, os roteiros regrediam, ao ponto do conflito central de um dos especiais ser "queremos fazer uma festa surpresa" e a resolução dele ser... o alvo da festa nunca descobrir, nem suspeitar, nem se sentir deixada de lado - por que não era aniversário dela.
Fancy Designs, uma das sublinhas de G3. |
O novo núcleo central. |
Em 2007, a Hasbro mudou o grupo central da linha, retirando a protagonista Minty e dando lugar a outro grupo de amigas: Toola-Roola, Sweetie Belle, Scootaloo, Cherilee, Starsong, Pinkie Pie e Rainbow Dash. No ano anterior, a empresa lançava (ainda com Minty ao centro) a primeira grande novidade: a sublinha Ponyville Ponies. Focada em playsets para competir com a linha Polly Pocket, da Mattel, a sublinha trazia pequenas miniaturas de plástico, sem crinas "de verdade" e sem articulações Vários itens da linha foram lançados como brindes do McDonald's, e ao fim do ano seguinte, a Hasbro repaginava a linha inteira partindo do visual de Ponyville Ponies.
Ponyville Ponies. |
G3.5, Newborn Cuties e a terceira morte de My Little Pony
Ainda sob o logo da terceira geração, a repaginação visual de 2009, apelidada pelos fãs de G3.5, pegava as proporções já exageradas mantidas desde 2003 e as levava ao extremo. Com cabeças imensas, membros bulbosos e corpos diminutos, os pôneis de 2009 à 2010 pareciam tudo, menos equinos.
O foco ainda era nas sete amigas do fim de G3, mas o pouco de personalidade exibido nos curtas digitais e nos filmes para vídeo desaparecia por completo. Em seu lugar, um hepteto de clones com a mesma personalidade alegre e boba, sem nenhum sinal de distinção ou independência, animadas mal e porcamente em Flash pela SD Productions. Se em G3 o conflito era quase inexistente, aqui ele inexiste por completo. A única exceção a esse padrão estava na única produção de G3 que não se resumia a um curta para a internet: My Little Pony: Twinkle Wish Adventure, que trazia as sete amigas em uma aventura para resgatar a estrela viva Twinkle Wish das garras da dragoa Winsey Weatherbee.
Tirando as mudanças de design, como os cabeções e as proporções esdrúxulas, nada realmente mudou nos brinquedos de G3.5, mas essa mudança de proporções é particularmente palpável. Ao fim de 2009, com as vendas em queda, a Hasbro tenta outra mudança para salvar a linha do fracasso. Sob o subtítulo Newborn Cuties, a nova sublinha focou em um público ainda mais jovem, com versões bebês das personagens centrais e narrativas ainda mais simples. Com apenas um DVD de dois episódios pelo estúdio Kunoichi, a parca produção de Newborn Cuties não contava sequer com animação facial.
No começo de 2009, com a marca novamente falida, a Hasbro decide repaginar a série por completo e deixa o trabalho nas mãos da animadora Lauren Faust. Com um currículo notável que incluía trabalho em obras como A Mansão Foster para Amigos Imaginários, As Meninas Superpoderosas, O Gigante de Ferro e Gatos Não Sabem Dançar, Faust se empenhou em livrar a franquia - e o gênero de animação em si - do estigma associado a séries para meninas: a ideia de que eram todas fúteis, vazias e bobas. O resultado, My Little Pony: Friendship is Magic fica para outra hora.
O Coletivo Metranca acabou? você pretende resgatar aqueles textos?
ResponderExcluirOpa, desculpa a demora, estava AFUNDADO em uma tradução (e tenho outra pra entregar na segunda semana de dezembro -_-). Então, o Coletivo teve... problemas técnicos e financeiros, mas voltamos ao ar. Eu ia recuperar os textos e jogar aqui, mas como conseguiram salvar tudo...
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