terça-feira, 24 de abril de 2012

Crítica: John Carter: Entre Dois Mundos

Bem, tá aqui uma crítica que eu estou devendo...

Se alguém acha que marketing ruim não tem como prejudicar um filme bom, eis a prova: depois de 74 anos de tentativas falhas, e precisamente 100 anos após o lançamento da história original, as histórias de Barsoom, de Edgar Rice Burroughs, finalmente chegaram aos cinemas este ano, e tiveram um fracasso estrondoso com John Carter: Entre Dois Mundos - o que é uma pena, pois o filme em si é excelente.


Tomando poucas liberdades com o material de origem,  John Carter conta  a história de, bem, John Carter (Taylor Kitsch, meio apagado no papel), um veterano da guerra civil que é transportado para Marte - ou Barsoom, como é chamado pelos nativos - onde se torna super forte e ágil por ter crescido na gravidade maior da Terra,  é capturado pelos selvagens Tharks, liderados por Tars Tarkas (Willem Dafoe) e resgata a estonteante princesa Dejah Thoris de Helium (Lynn Collins), prometida em casamento ao Jeddak de Zodanga, Sab Than (Dominic West). Da mesma maneira que os livros são supostamente histórias que o tio do autor lhe contou (dito tio seria o John Carter), o filme é contado como sendo Edgar lendo o diário do tio após sua suposta morte.

Onde o filme toma suas liberdades são pequenos elementos de cenário, combinando personagens supérfluos em um só, adicionando roupas aos marcianos (pois no livro todos andavam nus, a exceção de algumas jóias e bandoleiras), e introduzindo muito mais cedo os vilões da segunda história de John Carter, os Sagrados Therns e seu líder Matai Shang (Mark Strong) -e fazendo deles algo muito pior do que um culto religioso dos antigos marcianos brancos. E essa é a grande mudança do filme: enquanto o livro em que se inspira, "Uma Princesa de Marte",  gira em torno da Dejah Thoris, "Entre dois Mundos" monta os Therns como uma ameaça muito maior, fazendo deles parasitas alienígenas que manipularam a história de Marte e da Terra por milhões de anos (e sim, isso foi um baita spoiler, me processem). Também fizeram do líder Thark Tal Hajus uma figura mais ativa (no livro ele se resume a... ser um tirano e ficar sentado comendo como um porco), e tiraram as perucas "fabulindas" dos Therns. Também deixaram os Tharks um pouco menos enormes do que nos livros.

Visualmente, o filme não deve em nada - não a toa, já que os efeitos especiais ficaram por conta da Pixar - e a direção de Andrew Staton (Wall-E, Procurando Nemo) não é ruim. Onde ele peca em si são algumas atuações apagadas. O destaque visual vai para o Calot (o equivalente marciano para um cão) Whoola, que ficou simultaneamente feio pra caramba e adorável. Enquanto isso, o destaque atuação apagada vai infelizmente para Taylor Kitsch, que passa metade do filme sem um pingo de carisma. Depois que ele escolhe por Marte, aí são outros quinhentos.

Mas como foi que o marketing estragou John Carter? Comecemos pelo título: o livro se chama Uma Princesa de Marte, a primeira trilogia tem o apelido de John Carter: Senhor da Guerra de Marte (que é o título do terceiro livro), e o conjunto todo são as crônicas de Barsoom. O título do filme inicialmente seria John Carter de Marte "para não afastar o público masculino". Depois virou só John Carter, para não perder o público feminino, terminando com um título que não dizia porcaria nenhuma.






A Disney tinha ouro em mãos, com uma história que indiretamente inspirou toda a FC do século passado, a tal ponto que o filme foi acusado de ser clichê (sendo que o livro inventou a maioria dos clichês do gênero) e de "imitação de Avatar" - o que é realmente engraçado vendo que Avatar foi inspirado em John Carter. Raios, o Super Homem deve a sua existência a John Carter (originalmente, ele era um John Carter as avessas, que tinha super força por ter nascido em uma gravidade maior do que a da Terra). O que a Disney fez com isso? Tentou vender o filme como um filme de ação genérico, não mencionou em nenhum dos trailers que esse era o ano centenário da história, ou que ele tinha inspirado décadas de ficção científica. Pior: mudaram o título para não perder o público feminino, mas fizeram questão de esconder nos trailers o romance que é O CENTRO DA HISTÓRIA. O resultado: o filme bombou no mercado americano, o diretor da divisão de filmes da Disney se demitiu, e os projetos para Deuses de Marte e o Senhor da Guerra de Marte foram engavetados. Boa marketing...

5 comentários:

  1. Até hoje não assisti ao filme. Vamos dar uma olhada no fim de semana, lol.

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  2. Perdi esse filme infelizmente... não tinha ninguém para ficar com a minha filhota.
    :(
    Tenho pena que tenha sido um flop, tinha tudo para ser um grande filme! Dinheiro e uma panóplia de efeitos especiais à disposição. Infelizmente o inssucesso de bilheteira nos EUA invalidou para já que outros filmes que viessem a seguir... Quase que choro com isto. John Carter de Marte foi um dos primeiros livros de ficção que li quando era pequeno e adorei!
    O mais estúpido disto é que toda a gente que foi ver o filme gostou. Não percebo porque foi um flop nos EUA...
    :(

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  3. Concordo contigo na crítica, na minha opinião, os efeitos foram mais importantes que os conflitos dos personagens, o que tornaria essa história um verdadeiro épico...poxa, por pouco...e sim, os americanos "cagaram" para o valor do autor e o centenário da obra, lógico, mais uma razão da produção. Podia ter sido mais, podia sim ter sido um dos maiores filmes de fantasia de todos os tempos...

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  4. Não assisti ainda. Mas essa semana é de Vingadores!!!

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  5. Adorei o filme,e acho errado "engavetarem" novos filmes que com certeza melhores elaborados seriam sim um grande sucesso (na bilheteria que é isso que eles se enteressam)...

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