segunda-feira, 16 de maio de 2016

Bau de Brinquedos: Visionários, os Cavaleiros da Luz Mágica.

Apresentando uma linha que terminou
com muita coisa não lançada -
como essa base na Montanha de Ferro.
Quando a Hasbro decidiu reviver G.I. Joe em 1982 com A Real American Hero, a gigante dos brinquedos se deparou com uma mina de ouro. A combinação da escala menor, os veículos fantásticos e os personagens absurdos se provou um enorme sucesso com o público infantil. Não sem motivo, da mesma maneira que ocorreu com o He-Man da sua concorrente Mattel, não faltaram linhas para tentar copiar o sucesso dos Joes e Cobras.

Eu já falei de uma dessas linhas, M.A.S.K.. Mas ela não era a única: A Palitoy licenciou alguns moldes de G.I. Joe na forma de Action Force (que rapidamente desapareceu, engolida por G.I. Joe); a Remco tentou copiar o sucesso com uma linha do obscuro Sargento Rock da DC Comics. A nossa Guliver usou bonecos de Comando para Matar para fazer S.O.S Commandos. A Coleco tentou emplacar uma linha de brinquedos do Rambo (com veículos e playsets - alguns dos quais foram parar em S.O.S Commandos), enquanto a Kenner tentou fazer o mesmo com Chuck Norris, gerando a abismal Chuck Norris and his Karate Commandos.

Mas não estou aqui para falar destas linhas. Eu estou aqui para falar de quando a Hasbro tentou levar a engenharia e a formula de G.I. Joe para competir com os resquícios moribundos do He-Man. Senhoras e senhores, lhes apresento os Visionários, Cavaleiros da Luz mágica.



O cenário

O mago Merklynn: a fonte dos poderes - e do conflito. 
Lançada em 1987, Visionaires era fruto da mesma mente criativa que G.I. Joe, Flint Dille. No distante mundo de Prysmos, a convergência dos três sois levou ao fim de toda tecnologia avançada e ao retorno “das antigas feitiçarias”. Nesse mundo fantástico, o poder se concentra na mão do mago Merklynn, que concede acesso à magia para todos superarem seus desafios - quer sejam bons ou maus.

Os heróis eram liderados pelo bigodudo Leoric.
O conflito se centra em dois grupos: os heroicos Cavaleiros Espectrais liderados pelo princípe Leoric da cidade estado de Nova Valarak, e os perversos Lordes da Escuridão, comandados pelo decadente Darkstorm. Cada um dos sete integrantes de cada grupo dotado de seu próprio poder mágico especial e seu totem animal pela magia de Merklynn.

Graças ao caráter publicitário da série, algumas incoerências eram inevitáveis: embora “toda tecnologia avançada” tenha morrido como resultado da grande convergência, as duas facções contavam com veículos fantásticos, “movidos à magia”. Cada um dos personagens tinha seu próprio poder mágico, que iam do comum e típico de super-heróis (o heroico Cryotek tinha super força, por exemplo) ao místico e esperado de fantasia (Darkstrom podia levar coisas vivas à decadência).

Da mesma maneira, cada um tinha seu totem pessoal. Leoric tinha o Leão; Darkstorm o molusco. Seu segundo em comando, Mortredd (que para a surpresa geral de todos não é um Starscream, esse papel coube a Reekom, que faz mais o tipo “aliado por interesse”), o besouro rastejante, dado a ele por “por a puxação de saco acima de tudo”. O esquentadinho Cravex tem o Phylot, um... troço pterodátilo E.T. que Flint Dille tirou do nada. Além do poder concedido por seu cajado mágico, o totem dava a eles o poder de se transformar em seu animal espiritual.

Como muitas linhas da época, Visionaries contou com um quadrinho pela Marvel.
Como muitas outras tramas da Hasbro, a história dos visionários foi publicada pela Marvel através do selo Star Comics. A revista teve apenas seis edições, escritas por Gerry Conway e ilustradas por Mark Bagley, e foi cancelada na segunda edição de uma trama em quatro partes, quando a Hasbro cancelou a parceria.




A linha

Os cavaleiros Espectrais - por conta própria, definem a linha.
Visionaires era uma linha simples, bonecos de cerca de 9cm de altura, com exatamente a mesma engenharia de seus primos Joes. Alguns dos moldes da linha ao fim das contas acabaram sendo reaproveitados para G.I. Joe.  A grande diferença estava no peito e nos cajados de cada figura: um holograma (similar aos da obscura linha Supernaturals, criada pela Tonka para competir com Visionaires) revelava seu animal totem quando exposto a luz certa.

A linha durou pouco, apenas uma onda de bonecos e uma de veículos. Ao todo foram apenas 12 figuras, quatro das quais comercializadas apenas em conjunto com seus veículos. A Hasbro tinha protótipos para uma segunda onda, com mais 24 figuras e seis veículos - mas sem representação dos dois personagens iniciais faltantes, a heroica Galadria de Androsia e a perversa Virulina (que antes de ser uma senhora da escuridão era uma jornalista.) O motivo para a ausência das duas? “Meninos não querem bonecas”.

Virulina e sua contraparte heroica não fizeram parte da linha.
As figuras canceladas incluíam mais oito cavaleiros espectrais, dez lordes da escuridão, e os “diabretes do sol”, criaturas infernais que agiam mais ou menos como se o Sr Mxyptlk ou Impy, o Homem Impossível fossem seis, e menos inteligentes.

Da mesma maneira que os Joes, os bonecos contavam com articulações universais nos quadris e ombros, um elástico na cintura, uma junta biaxial no pescoço, uma rotação no bíceps e dobras nos joelhos e cotovelos. Por motivos óbvios os bonecos não podem se transformar.

Enquanto os Joes vinham com armas de fogo, animais, asa-deltas e lança-misseis maiores que seus corpos, os visionários vinham com armas brancas, um capacete e um cajado A exceção eram os quatro personagens que acompanhavam veículos, para os quais o veículo tomava o lugar do cajado.

O Dagger Assault: é... uma coisa, eu acho. 
Os quatro veículos da linha... estão entre os piores que a Hasbro já fez. Nenhum deles parece com um veículo, sendo melhor definidos como “um triangulo com um lugar para sentar” ou “uma cápsula”. Esses quatro eram o caça Sky Claw, de Mortredd; A fortaleza voadora Dagger Assault, de Reekom; a “moto” Lancer Cycle, do heroico Ectar e o “tanque” Capture Chariot do benevolente Feryl.  

O desenho

Produzido como de costume pela Sunbow Animation, a subsidiária da agência publicitária Griffin Bacal responsável pela confecção dos “comerciais de 22 minutos” da Hasbro, a série animada de Visionaries teve apenas 13 episódios. Ao contrário da norma da produção da Sunbow, não houve envolvimento da Marvel no desenho: a produção foi inteiramente da Sunbow em parceria com a Tokyo Movie Shinsha.

Abandonando os usuais serviços terceirizados da Toei e de estúdios como a AKOM, Visionaries tinha de longe a melhor qualidade técnica dentre os desenhos da Sunbow. Os modelos de animação eram detalhados, sem as simplificações que abundavam nos outros produtos da companhia, as cores vividas e o movimento fluído. Não apenas para os padrões da época: Visionaries ainda é um desenho tecnicamente louvável, ao contrário do grosso dos desenhos dos anos 80.


O roteiro ficou dividido entre Flint Dille, Buzz Dixxon e Doug Booth, e introduziu numerosos personagens que não deram as caras na série da Marvel, dentre os quais os magos Wizasquizar (amaldiçoado à nunca dizer a verdade) e Bogavus - que pode ou não ser um homem inocente preso injustamente como um mago maligno, seu único episódio deixando sem resposta a pergunta sobre a qual a trama revolve.  

Com animação fluída e bons roteiros, a série tinha tudo para vingar. Os brinquedos também não iam mal no mercado estrangeiro, apesar do design pífio dos veículos, mesmo sem conseguir conquistar o público americano. Mas em 1988, logo após a introdução de novos vilões, os Diabretes do Sol, o desenho foi cancelado, juntamente com todos os outros desenhos da Hasbro, como G.I. Joe, The Transformers e My Little Pony. .

Mas por que fracassou?

Enquanto Transformers e G.I. Joe tiveram suas licenças para quadrinhos renovadas, com G.I. Joe sendo logo revivido sob outro estúdio com a série da DiC em 1989, os Visionários simplesmente sumiram. Tanto os Joes quanto os Cybertronianos continuaram a ter bonecos novos (em ritmo decadente e apelando para gimmicks ao longo dos anos) até o fim da década de 80, os cavaleiros da luz mágica foram silenciosamente enterrados.

A linha entrou em decadência, assim como os alvos
 da magia do líder dos lordes da escuridão, Darkstorm
Globalmente, as vendas não eram ruins - a ponto deles hoje abundarem em lojas de quadrinhos, antiguidades geeks e curiosidades, especialmente na Europa. Os visionários forma vítimas de uma das primeiras reestruturações a impactar os brinquedos da Hasbro. Em 1987, o mercado de brinquedos como um todo sofreu um baque com o surgimento de um gigante: Teenage Mutant Ninja Turtles. A Hasbro já vinha perdendo vendas em suas linhas maiores e precisou se repaginar para combater a “ameaça verde” da Playmates (vide o surgimento dos Headmasters, ou os temas esdrúxulos dos Joes - ou os Pretenders, pensados na estética de TMNT).

Uma das primeiras baixas dessa repaginação foi o fim do contrato com a Sunbow, já cercada de problemas ligados à cortes de gastos e parcerias com a AKOM de Nelson Shin, considerada um dos piores estúdios de animação do mundo.

Mas por que os Visionários foram podados de vez, ao invés de serem repaginados como os Transformers ou os Joes? Dois motivos. O primeiro é que embora as vendas mundiais não fossem ruins, as vendas diretas, pela própria Hasbro nos EUA, foram pífias. Para o público americano, eram só “os Joes medievais com peito que brilha” que custavam mais caro e vinham com menos coisas. O outro problema, ou ao menos a justificativa dada pela Hasbro em convenções por anos, era justamente o “peito que brilha” e os custos que incorriam dele. Mesmo se as vendas nos EUA fossem boas, a série ainda daria prejuízo, devido ao custo de produção dos hologramas. Mortos por seu próprio gimmick e sem ter como sustentar a linha, os visionários tiveram um fim súbito.  

Bonecos que crianças nunca tiveram a chance de ter em mãos...

Quase 30 anos após a morte inglória de obra de fantasia de Flint Dille, os visionários podem ressurgir como parte do projeto de “universo coletivo” da Hasbro em parceria com a Paramount. Como serão introduzidos no universo cinematográfico que começou com Transformers e que deve contar com M.A.S.K. e Micronauts não se sabe - é possível que deem as caras em um dos próximos filmes de Transformers, dado que Optimus Prime foi pro espaço no último.

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