segunda-feira, 11 de junho de 2012

Crítica: JCVD

Existem certos atores dos quais é inviável esperar um trabalho de qualidade. Encabeçando essa categoria certamente estão os astros do cinema de ação dos anos 80, como Steven Seagal, Dolph Lundgren, e o eterno Jean Claude Van Damme. Imaginem então um drama estrelado por este último. Não parece algo com muitas chances de ser bom, ou sequer "assistível", mas JCVD (Bélgica, 2008) demonstra como Van Damme só precisa do roteiro certo e distanciamento da pancadaria para revelar-se um grande ator - ou talvez o filme seja tão bom por ele não estar atuando.

Em JCVD, Van Damme vive uma versão ficcional, mas nem tanto, de si mesmo. Um ator acabado, que não consegue papéis decentes, afundado em dívidas e perdido no meio do processo de custódia da filha, e que retorna a sua cidade natal de Bruxelas para "por sua vida em ordem". A situação parece estar no fundo do poço, e só piora quando Van Damme se vê no centro de um assalto a um posto do correio enquanto tenta fazer uma pequena transferência para pagar o seu advogado.

Em um filme normal do "músculo de Bruxelas", a situação seria resolvida na base de socos e pontapés, e Van Damme sairia do assalto um herói. Não aqui, onde sob a direção do franco-tunisiano Mabrouk El Mechri a situação se torna uma maneira perfeita de expor a diferença entre o Van Damme "astro" dos anos 80, e a figura patética que o verdadeiro ator se tornou. O que ocorre é ele pateticamente tentando resolver a situação, enquanto atua como negociador para os criminosos - e é visto pela polícia como sendo o líder dos assaltantes. Mas nada demonstra mais o quanto o "astro" e o "ator" são diferentes quanto a cotovelada patética, dada no lugar da elaborada sequência de chutes planejada na cabeça de Van Damme, quando a oportunidade de "ser o herói" finalmente surge.

O roteiro de El Mechri e Frédéríc Bénudis deu espaço para que o antigo astro de ação barata fizesse uma atuação comovente - e dolorosa - sobre sua própria decadência, e sobre como Hollywood e o culto ao sucesso destroem vidas. Em um toque audaz que só se vê no cinema europeu, o filme se interrompe no auge da ação para um monólogo  de sete minutos que viola completamente qualquer ilusão de realidade da situação. Um monólogo direto do protagonista para o espectador, em que Van Damme expõe todos os seus fracassos e dificuldades profissionais e pessoais, dos múltiplos casamentos até a luta contra as drogas, com um grau imenso de sinceridade.

JCVD foi indicado a Palma de Ouro - algo que nunca se esperava de um filme do Van Damme - e talvez seja o único filme legitimamente bom na carreira do "Grande Dragão Branco". Não é difícil de achar nas locadoras. Isso deveria ter sido um retorno comovente para o ex-super star, mas infelizmente Jean Claude já retornou aos filmes de ação baratos. Uma lástima.



5 comentários:

  1. Uma lástima, lógico que 99% dos filmes que estrelou são substituíveis, mas sempre achei mesmo que ao contrário dos demais colegas de "porrada", ele podia fazer mais, muito mais, taí a prova, mesmo que ele tenha logo depois tido uma recaída artística...

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  2. Rapaz nunca assisti esse filme, mas fiquei curioso, vou procurar e assitir.

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  3. Cara, defina qualidade? Pois o Seagal tem trillers policiais ótimos como o "marcado para a morte" e o próprio jam cloud fandango estrelou "o grande dragão branco" que é sensacional.

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  4. Bem... eu gosto de filmes de acção pipoca e Van Damme fez-me passar alguns bons momentos no "Crash, Bang e Kpow"!
    Não tenho nada contra esses filmes, fazem-me relaxar rapidamente!
    :D
    Não sabia que ele tinha feito um filme com a sua queda na vida, pelo que falas até é bem capaz de ser interessante!
    :)

    Abraço

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