Mas para o que realmente interessa por hoje: Sexta-feira eu finalmente fui assistir "As aventuras de Tintin" - fazia um bom tempo que eu estava esperando pelo filme - e tenho que dizer: Spielberg pode ter "perdido o toque", mas este filme demonstra que parte do que lhe fez um grande diretor ainda está lá. Embora o clássico das HQs já tenha sido adaptado para as telas algumas vezes, está é apenas a segunda vez que o trabalho faz justiça a criação do belga Hergé - somente a série animada franco-canadense dos anos 90 conseguiu este feito. E em meu ver, tanto o filme de Spielberg quanto a série da Nelvana conseguem superar o material de origem.
Mas espera, como assim superar?! Pra ser sucinto: não que as HQs sejam ruins por si (embora as primeiras sofram muito por estarem marcadas pela falta de conhecimento de mundo de Hergé na época da autoria), mas tanto a série quanto o filme limpam o elenco, e aprimoram o timing dos quadrinhos. Indo direto ao filme e deixando o desenho (que eu adoro) de lado, além de aprimorar o que já era ótimo - apesar de tomar algumas liberdades criativas - a obra de Spielberg conseguiu o realmente improvável: superar o uncanny valley.
Produzido inteiramente em computação gráfica, em vários pontos "As aventuras de Tintin" acaba enganando: Não fossem as proporções exageradas de vários personagens (preservando as características físicas dos quadrinhos), dava para achar que é um filme de fato, e sem aquela sensação de "errado" que personagens computadorizados as vezes geram.
Saindo do aspecto técnico (e que está de parabéns), temos uma adaptação consideravelmente fiel e bem pensada de "O segredo do Licorne", com algumas mudanças - e mesclando alguns elementos de "O caranguejo das pinças de ouro" e "O tesouro de Rakham, o Terrível" (que diga-se passagem, deve ser o segundo filme do jornalista aventureiro). Embora algumas coisas tenham sido mudadas, e alguns personagens tenham sido retirados ou trocados, o tom se mantém fiel ao original - e não cai naquela falha comum de Hollywood, de tentar deixar épico o que não precisa ser (vide o novo Conan).
Tintin está apropriadamente heroico e persistente. Os inspetores Dupont e Dupond estão atrapalhados como deveriam ser -e roubando a cena, com de se esperar. Mas o ponto forte do filme vai para o capitão Haddock: em sua história introdutória, e podendo explorar o Alcoolismo que havia sido parcialmente censurado no desenho da Nelvana, o velho lobo do mar está simplesmente hilário. E de certa forma, o filme é mais dele do que de Tintin. Afinal, é o legado da sua família que permeia o filme, e é nele que se tem o maior desenvolvimento de personagem, passando de um velho alcoólatra derrotado, para um um homem implacável. Pois um Haddock NUNCA desiste!
E para os fãs brasileiros, um ponto muito bom: Embora a dublagem original do filme use os nomes americanos (Snowy ao invés de Milu, Thomson e Thompson ao invés de Dupond e Dupont, etc), em português foram mantidos não apenas os nomes originais, mas também a maior parte das vozes que marcaram o desenho dos anos 90. Um verdadeiro agrado da equipe de localização.
Quem tiver tempo, realmente recomendo que assista antes que saia de cartaz. É um filme excelente, divertido e que não estraga aquilo que é bom: ao contrário, potencializa os pontos fortes e descarta aquilo que não vale a pena. Genial. E só para fechar, o tema de abertura do desenho que marcou a minha infância (e a de muita gente) - e única coisa que faltou no filme.
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