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sábado, 29 de agosto de 2015

G.I Joe: A Real American Hero - vulgo, a série que importa.

Semana passada eu falei da linha original de G.I. Joe e seus desmembramentos ao longo dos anos. Mas não é esta a linha que todos conhecem e adoram, não é mesmo? Os Joes amados e celebrados eram menores, mais fantasiosos, e tinham um desenho matinal. Falo é claro de G.I. Joe, A Real American Hero, vulgo Comandos em Ação.

YO JOE!
Em 1982, a Hasbro arranjou uma nova maneira de comercializar a linha. Sob o inprint de “A Real American Hero”, e focado primariamente na venda de veículos e playsets, G.I. Joe abandonava o realismo para aproveitar o novo nicho publicitário: desenhos animados. Para elaborar o universo ficcional dos soldados, a Hasbro buscou uma força maior - uma que hoje é um gigante cinematográfico. A Marvel.


Os quadrinhos, de Hama e
Goodwin.
Sob a orientação de Jim Shooter, então editor chefe da Marvel, o roteirista Larry Hama tratou de repensar uma proposta anterior, “Fury Force”. O quadrinho traria o filho do diretor da SHIELD, Nick Fury, enfrentando os terroristas da Hydra. Com a proposta da Hasbro para uma linha de brinquedos, caía a “Força Fury”, e entravam os Joes. No lugar da Hydra, a organização terrorista Cobra, criação do roteirista Archie Goodwin. Honestamente, não é difícil encaixar G.I. Joe como parte do universo Marvel, as raízes como um desmembramento das histórias da SHIELD é bem claro.


O catalogo original dos Joes - notem a ausência de qualquer
personagem para os Cobra.
A nova linha era consideravelmente menor: cerca de 9 cm de altura, tamanho comparável aos bonecos de Star Wars da Kenner. Em comparação com estes, estavam em clara vantagem: enquanto os bonecos da Kenner contavam com juntas simples nos quadris e nos ombros, os Joes contavam com joelhos e cotovelos articulados, rotações na cintura - presa com um elástico - e juntas universais nos ombros e quadris. Em 1983, os moldes foram melhorados com dois pontos de articulação a mais: uma rotação no bíceps e a capacidade de olhar para cima e para baixo.


Insanidade veícular


O HISS inaugurou a insanidade nos veículos de G.I. Joe
O grande foco, no entanto, eram os veículos e os playsets. De motos a tanques, de espaçonaves à fortalezas ambulantes, não havia um único tipo de veículo militar não contemplado por G.I. Joe. Nos primeiros anos o foco era em veículos “realistas” : tanques, jatos, jipes, com poucos exageros. Mas rapidamente os veículos foram ficando mais criativos, começando pelo Cobra HISS em 1983, um tanque capaz de se erguer sobre suportes hidráulicos... por algum motivo.


Daí para frente não haviam limites. Pula pulas da morte, cadeiras helicóptero, tanques com mais armas que uma frota inteira, bunkers ambulantes, tanques que soltavam veículos menores, bases que se fechavam em veículos, veículos que se combinavam em bases. Todos dividindo certas características que dizem “veículo de G.I. Joe”:


  • O condutor quase que inevitavelmente ficava com a cabeça pra fora
  • Uma quantidade ridícula de gente viajando pendurada do lado de fora(com pinos feitos para prender os pés dos bonecos)
  • Mísseis e lançadores de mísseis perigosamente perto da cabeça do motorista
  • Um codinome ridículo, como “DEMON”, ou “"BRAWLER
  • Mais armas do que um fanfic mal escrito
  • A capacidade de soltar veículos menores


Em 1985, a linha superou todas as marcas do ridículo ao lançar o USS Flagg, um porta aviões grotescamente fora de escala, com impressionantes dois metros de comprimento. Até hoje, o Flagg detêm o título de maior brinquedo já lançado pela Hasbro.



Eu poderia escrever mais sobre a insanidade que eram os veículos de G.I. Joe, mas vou deixar eles falarem por si só:

Primeiro: o que é isso? Segundo: qual é a do um tripulante
de costas?


"Que tal um tanque que quebra em três?"
O BUNKER móvel de batalha (que não cobre a cabeça
dos tripulantes)

Em um mundo onde todos tem a mira de um stormtrooper,
melhor por o máximo de armas por tanque.



Eu não sei descrever isso. 

Brawler, vulgo, Mamut no Brasil. Tantas armas, e nenhuma proteção.

D.E.M.O.N. - ou: como por mais armas por m² de tanque. 

A Base móvel dos Joes - ênfase em BASE. 


Eu não faço ideia.

Tirando os caras pendurados, é só um Hummer.
WHAT



Animação é metade da batalha


A outra metade: 20% lasers azuis, 20% lasers vermelhos,
5% Yo Joe, 5% Cobra La.
G.I Joe, como toda boa linha de brinquedos, contou com seu próprio desenho animado produzido em parceria pela Marvel e pela Toei Animation. Com 95 episódios, a série foi um sucesso considerável, contando com duas minisséries de cinco episódios cada para “estabelecer o cenário”. Como a maioria dos desenhos a época, com a exceção de histórias em múltiplas partes, a continuidade era inexistente. E como a série servia apenas como um comercial  de brinquedos de 30 horas, praticamente todo episódio contava com algum personagem ou veículo novo. Cada episódio encerrava com uma lição de segurança, concluída com a frase “agora você sabe, e saber é metade da batalha”



Desde o início, G.I. Joe - A real American Hero - era uma série repleta de personagens... menos que sérios, coisa que foi se agravando ao longo dos anos. Do lado dos Joes tínhamos personagens que iam do semi sério (Duke, Roadblock) ao absurdo (Grid Iron, um jogador de futebol americano; William Perry, um jogador de futebol americano de verdade; Dee-Jay, um... DJ) passando pelo “tão ridículo que é ótimo” (ninjas, muitos ninjas, especialmente Snake Eyes, o personagem mais popular da franquia) e pela auto paródia (Sargeant Slaughter, um lutador de luta livre dublando a si mesmo).


As faces (mascaradas)
do mal. 
Com os Cobra, não era muito diferente. Além de ter ninjas do seu lado (Storm Shadow sendo o mais famoso), os Cobra contavam com metaleiros (Metal Head), cientistas loucos (Doctor Mindbender), empresários maníacos por poluição (Cesspool), e... caras vestidos como um condor? (Raptor). A liderança da organização passou de um líder mascarado (Comandante Cobra) auxiliado por gêmeos telepatas (Tomax e Xamot), um traficante de armas com rosto metálico (Destro) e uma sedutora vagamente européia (Baronesa, o maior clichê da série) para um clone aperfeiçoado de todos os grandes conquistadores da história (Serpentor).

Isso é uma das imagens mais "decentes"
da Baronesa fora dos quadrinhos e do
desenho original. Interprete como
quiser.


E, para completar, a série animada de G.I. Joe trazia uma característica em particular: ninguém era capaz de acertar ninguém. Em meio a chuva de lasers vermelhos e lasers azuis, ninguém nunca era atingido. Era uma estranha “guerra”sem mortes e sem feridos, apenas pessoas nocauteadas por chutes e gases do sono, dardos tranquilizantes e armadilhas.




Como os fãs mataram G.I. Joe


"GI Joe é uma série militar séria, Wooo-oo".
Apesar disso, A fanbase de G.I. Joe se tornou fixada em um único aspecto: a linha era “militar” e “séria”. E em 1987, isso se provou o início da decadência de G.I, com o lançamento diretamente para vídeo de G.I. Joe: The Movie trazia um novo grupo de vilões: a civilização antiga de Cobra-la (la-la-la-la-la...), a verdadeira força por trás dos Cobra. Liderada por Golobulus e Dotada de bio-tecnologia e com monstros no lugar de veículos, a nova facção foi rapidamente esquecida, com apenas três bonecos lançados - um deles anos mais tarde, como um exclusivo de convenção.


A nova cara do Comandante Cobra não foi bem recebida pelos
fãs.
Em 1989, com a queda de popularidade da série original e uma pilha gigante de personagens novos, a Hasbro encomendou a DiC uma segunda série de G.I. Joe, com mais 44 episódios. A série nova esqueceu praticamente por completo de todos os personagens velhos, dando foco apenas para os que estavam no mercado - da mesma maneira que ocorreu com Transfomers. O desenho também mudou as vozes de quase todos os personagens que retornaram.


No Brasil, a linha foi lançada pela Estrela, com o nome de Comandos em Ação. A linha nacional de G.I. Joe mudou vários nomes, criou um bocado de moldes novos, e lançou vários veículos em padrões de cor que não existiam no mercado americano. A linha foi um imenso sucesso, e garantiu à Estrela destaque no mercado até muito depois da queda dos Joes nos EUA. Perder a licença foi parte do que deflagrou o colapso da empresa.


Entre as sublinhas de maior destaque de G.I. Joe estavam Força 2000 e Força Destro( Destro’s Iron Grenadiers, nos EUA), com a divisão “futurista” dos Joes e a unidade pessoal do traficante de armas Destro; Ninja Force, no último ano da série, com ninjas a rodo (e que acidentalmente lançou algumas cópias dos ninjas Storm Shadow e Snake Eyes em facções trocadas); Eco Warriors, com temática ambientalista e “manchas de poluição”; as linhas camufladas Força Tigre (Joes) e Força Naja (ou Python Force, Cobras); e Força Fera, que vinham acompanhados de animais.

Sim, eles são oficiais. (Awesomefigures.dk). 
Em 1994, com o envelhecimento dos fãs que focavam apenas em “realismo”, G.I. Joe caiu em decadência. Tentativas de reviver o estilo da série ocorreram esporadicamente (incluindo um tie-in com o filme de Street Fighter, e outro com Mortal Kombat) sem muito sucesso. A mesma insanidade que fez de A Real American Hero o que era é rejeitada pelos fãs que querem “seriedade” e “realismo”. Ao mesmo tempo que querem uma equipe de soldados ridículos enfrentando terroristas com tema de cobra e soldados robô. Sobre essas tentativas, veremos outro dia.

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

História dos Brinquedos: G.I. Joe, parte 1.

Um sucesso imenso no Brasil nos anos 90, G.I. Joe é uma das linhas mais importantes para a história da indústria de brinquedos. Não sem motivos: É dela que veio o termo “Action Figure”, foram os Joes que começaram o longo processo de dar articulação para bonecos, e dela derivaram dezenas de linhas - seja por plágio, inspiração ou por reuso da engenharia dos Joes.


Falo aqui não dos Comandos em Ação, título brasileiro da linha mais famosa de G.I. Joe, “A Real American Hero”, mas dos Joes originais, de 1964, lançados aqui com o subtítulo “Falcon”, e na Europa como Action Man!. A linha inicial de G.I Joe - America’s movable fighting man contava com apenas quatro modelos: infantaria, marinheiro, piloto e fuzileiro naval. Ao mesmo tempo, conjuntos de acessórios e uniformes novos foram lançados, visando garantir o mercado antes dos imitadores.


O criador e a criatura. 
A linha projetada pela Hassenfield Brothers (hoje Hasbro. Então, primariamente uma empresa textil que lançava brinquedos educativos) surgiu como uma espécie de homenagem às forças armadas, e uma tentativa de atingir um mercado ignorado pela industria de bonecas: os meninos. A ideia veio do diretor criativo da divisão de brinquedos da empresa, Don Levine.


A ideia de Levine era lançar uma série de brinquedos representando membros das forças armadas, com multiplos acessórios. Dois fatores foram essenciais em transformar G.I. Joe no gigante que um dia foi. O primeiro foi a moratória que Levine impôs sobre o termo “Doll” (Boneca). Pesquisas de mercado demonstravam que meninos não comprariam bonecas, então dentro da Hasbro, estava proibido o termo; no seu lugar, foi criado “Action Figure”.


O outro fator foi de ordem prática. Enquanto todos os bonecos no mercado no início dos anos 60 contavam com cinco pontos de articulação (se tanto - ombros, quadris e cabeça), G.I. Joe se marcou por ser “super articulado”. Os bonecos originais da linha, projetados por Sam Speers, contavam com impressionantes VINTE E UM pontos de articulação, incluindo juntas nos calcanhares e nos pulsos.


Os quatro modelos iniciais foram relançados repetidas vezes, com alterações nos uniformes e acessórios. Em 1965, uma variante negra do soldado foi lançada, sem modelagem nova: tratava-se apenas do mesmo boneco moldado em plástico marrom. Em 1965 foi lançado o primeiro veículo da linha de 12”: um jipe do exército.
Os bonecos originais.


A popularidade de G.I. Joe foi imensa, e entre 64 e 65, dois terços da receita da Hassenfield Brothers vinha dos Joes. Os bonecos foram licenciados para o mercado europeu para a Pallitoy, que os lançou sob o nome de Action Man, e para o mercado japonês para a Takara, na forma de Combat Joe. Tudo ia bem para os Joes.


E seu único veículo oficial - outros veículos foram lançados
por empresas licenciadas, com menos detalhes



Adventure Team


Os novos Joes: Adventure Team.
Mas em 1969, G.I. Joe sofreria o primeiro baque: com o crescimento do sentimento anti-guerra causado pela Guerra do Vietnã, brinquedos militares não eram mais tão populares. Dependendo dos Joes para grande parte dos seus lucros, a Hasbro se viu forçada a reinventar a linha, como Adventure Team. Iam se os soldados, e entravam exploradores, mergulhadores e astronautas.

CONDOR e Torak: criações da
Estrela.
A nova linha trouxe inovações para a engenharia dos Joes. As mãos tinham “uma pegada kung fu”, os cabelos passaram de serem pintados para “cabelos de verdade” (e várias figuras contavam com barba) e o mais curioso, os aventureiros contavam com “olhos de águia” móveis (a mais rara de todas as articulações!). Foi dessa linha que surgiu o Falcon, lançado no Brasil em 1977 pela Estrela. A linha brasileira de inicio contava com apenas dois modelos (com barba e sem barba) contra os nove da original. Com o tempo vieram mais opções (incluindo dois moldes originais: “CONDOR, o amigo biônico do Falcon” e “Torak”).


Perto do final da linha Adventure Team, em 1976, vieram os primeiros bonecos “do mal”, os Intrusos, alienígenas que visavam dominar o planeta. Mas no ano seguinte a linha seria cancelada e dava lugar para “Super Joe”, uma linha de ficção científica com tamanho reduzido (caindo dos 30cm de G.I. Joe para cerca de 21cm). [
Do licenseamento, a inovação


Henshin Cyborg - a evolução japonesa dos Joes
Na Europa, o “Adventure Team” permaneceu sob a alcunha de Action Man. Mas a licença repassada a Takara resultaria em uma das maiores inovações para brinquedos desde os Joes originais. A empresa japonesa aproveitou o caráter “modular” dos Joes (afinal, o boneco base era sempre o mesmo, salvo a cabeça) e inovou: a linha Henshin Cyborg trazia ciborgues de corpo transparente e cabeça cromada, que se “transformavam” em heróis da TV como Kamen Rider e Ultraman. Essa linha e sua derivação miniaturizada serão cobertas em mais detalhes em outra ocasião.


Mas a inovação viria em 1974. Interessada em lançar veículos para os ciborgues, a Takara encontrou um problema: os bonecos de 30 cm eram grandes demais para isso, especialmente com a crise econômica que afetava o país.


A base dos Joes dos anos 80: Microman
A solução? Miniaturizar a engenharia e criar um boneco menor. A nova linha, com os mesmos detalhes visuais de Henshin Cyborg, tinha apenas 9,5 cm de altura, e segundo a ficção da linha, este era o tamanho real dos “Microman”*. A inovação da Takara não passou despercebida pela Hasbro, que tratou logo de fazer um acordo com a empresa nipônica, e reviveu G.I. Joe sob um novo nome e uma nova cara, no inicio dos anos 80. Sobre a qual leremos semana que vem.


A volta dos gigantes


Embora a Hasbro tenha abandonado o formato de 30 cm no final dos anos 70, houveram algumas revividas dos Joes “originais”. No começo dos anos 90, os velhos moldes foram ressuscitados para a breve G.I. Joe Hall of Fame, uma linha que visava atender os desejos nostálgicos de colecionadores e capturar a atenção dos fãs da linha moderna (G.I. Joe: A Real American Hero). A linha também contou com lançamentos baseados nos jogos Street Fighter e Mortal Kombat - mais especificamente, nos filmes de ambos.


Em 1996, os bonecos originais foram relançados com vários extras sobre a produção e o design dos brinquedos como parte da linha Masterpiece Edition. A coleção incluia livros sobre o nascimento da linha e reproduções dos documentos da patente de G.I. Joe.


No mesmo ano, foi lançada a Classic Collection, com um molde novo e melhor articulado. A coleção introduziu também os primeiros moldes femininos na escala 1/6 de G.I. Joe, as G.I. Janes. A linha contava com reproduções fidedignas de soldados americanos e ingleses da Segunda Guerra Mundial e de conflitos modernos, com séries limitadas representando diversas unidades. Edições limitadas incluiam também figuras homenageando “verdadeiros heróis americanos” como Buzz Aldrin, George Washington e Audey Murphy.


A penúltima ressurreição dos Joes 1/6 foi a Timeless Collection, de 1998, lançada apenas nas lojas FAO Schwarz. A linha contava com reproduções dos bonecos originais, e durou até 2003. Joes em escala 1/6 foram lançados como parte da coleção dos filmes, em 2009 e 2013 - mas enquanto os bonecos de 2009 eram essencialmente o mesmo que os clássicos, os lançados em 2013 contavam apenas com articulações no pescoço, ombros e quadris.
As figuras modernas em 1/6: simples, mal pintadas e
quase sem articulações. Em suma, um retrocesso.


Em 2014, como parte da celebração dos 50 anos de G.I. Joe, os moldes clássicos e de Adventure Team receberam mais um relançamento limitado, nas lojas Toys’R’US.

*Parte da linha Microman, a sublinha Microchange, foi reaproveitada pela Habsro em The Transformers.