quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Doctor Who: Fantástico, absolutamente Fantástico.

 /Bem, creio que não seja nenhum segredo o fato de eu ser fã do seriado britânico Doctor Who. E como um bom fã, vou aproveitar para fazer um pouco de "propaganda extra", assim por dizer. Perto de completar 50 anos (!!), Doctor Who não é nenhum "peixe pequeno" da Ficção Cientifica televisiva, e é lamentável que não passe aqui no Brasil. Então só por fazer, aí vai um "artigão" sobre o bom Doutor, e suas encarnações. Allons-y!

Enquanto tantos outros seriados de FC estão cercados por uma narrativa militarista (e não se enganem: por mais que a federação de Star Trek seja pacífica, a Enterprise ainda é uma estrutura militar), Doctor Who parte por um viés raramente explorado pela FC em vídeo - na literatura é outra história -: o herói quase que puramente intelectual. Sim, temos cenas de ação, mas é raro que o Doutor escolha a violência como solução. Isso quando ele não tenta salvar o inimigo da vez - mesmo quando este não mereça piedade, caso como o do Mestre

Nada de armas ou resolver as coisas com lutas empolgantes aqui, todas as soluções do Doutor dependem do cérebro, do ambiente ao seu redor, e de uma boa dose de improviso - não que uma chave de fenda sônica não ajude 90% das vezes (e quem que olha para uma chave de fenda e pensa "isso precisa ser sônico"?). Também ajuda o fato do Doutor - embora seja um alienígena do espaço que viaja em uma cabine telefônica (longa história, para resumir, a TARDIS tem problemas no sistema de camuflagem) - ser um dos poucos personagens céticos da televisão retratado de maneira consistentemente positiva no seu ceticismo.
Sim, temos alienígenas aos montes em Doctor (todo episódio, na verdade), mas nada de espíritos, assombrações, feitiços e outros elementos sobrenaturais. Até as coisas que parecem mágicas (tipo as Carrionitas de "The Shakespeare Code) são casos da terceira lei de Clarke (qualquer tecnologia avançada o bastante é indistinguível de magia). E isso não apenas mantém a consistência da série, mas passa uma mensagem muito rara hoje em dia: a realidade é bela o bastante vista pelos olhos da ciência, sem ter que meter magia no meio "para ficar fantástico". 

E mesmo sem "magia", não são poucos os seres incríveis encontrados pelo Doutor: dos malignos Daleks e desumanos Cybermen, até a bizarra consciência Nestena, passando pelos Sontaranos e os Senhores do Tempo. Combustível de pesadelo puro nos Anjos Lamuriantes e nos Vashta Nerada, até o trash do trash com os Guerreiros do Gelo e os Raxicollafalapatorios. O Doutor já enfrentou de tudo.

São 49 anos de aventuras do Doutor, passando por até agora 11 atores, cada um com uma leitura levemente diferente do personagem - e sem que a série tivesse um "reboot" a cada novo ator. Muito pelo contrário: em uma sacada genial da BBC, quando tiveram que trocar o ator pela primeira vez, por ser um "Senhor do Tempo", o Doutor pode se regenerar, com um novo rosto, um novo ciclo de vida completo e uma personalidade levemente diferente. Junte isso a um elenco extremamente longo de companheiros, e tem material para agradar a quase todo mundo.

O primeiro Doutor: William Hartnell (1963-1966)

One day, I shall come back. Yes, I shall come back. Until then, there must be no regrets, no tears, no anxieties. Just go forward in all your beliefs and prove to me that I am not mistaken in mine
Ranzinza, excêntrico, e misterioso, o Doutor original começou como um velho rabugento com ares de intelectual. Com o tempo, foi se tornando mais amigável e mais gentil, embora como qualquer encarnação do Doutor tivesse seus momentos de fúria que ressaltavam o quão "além" da humanidade ele está. Hartnell sofria de arteoesclerose, e não consegui lembrar de muitas das falas (o que resultava em muitos "hmmmm..." e "eh"). Vendo que não conseguiria continuar no papel, pediu para ser substituído - a ideia da regeneração foi dele - e ao final de "The Tenth Planet", o Doutor "morria", aparentemente em função da idade. No seu lugar surge...


O segundo Doutor: Patrick Troughton (1966 - 1969)
There are some corners of the universe which have bred the most terrible things. Things that act against everything we believe in. They must be fought! 
Muito mais "leve", o segundo Doutor era um personagem mais bem humorado, e muito mais "rebelde" e contrário a autoridades do que o primeiro. Embora Hartnell tenha dado "vida" ao personagem, é com Troughton que o Doutor assume forma: excêntrico, distraído, vestido de maneira ridícula, sempre preparado para o que seja (graças a bolsos maiores por dentro do que por fora), Troughton codificou o que é o Doutor. Sua despedida foi mais dramática do que a de Hartnell: condenado pelos senhores do tempo por sua interferência em outros mundos, foi forçado a assumir outra identidade, e ficou ilhado na Terra sem sua Tardis por um tempo, dando lugar à...

O terceiro Doutor: John Pertwee (1970-1974)

You know, Jo, I sometimes think that military intelligence is a contradiction in terms.
Mais voltado para a ação, o terceiro Doutor trabalhou junto com a U.N.I.T (United Nations Inteligence Taskforce) no combate às ameaças extraterrestres contra a Terra. De certa maneira, a passagem de Pertwee pelo papel é um longo filme de ação, com cenas de luta marcadas pelo "Aikido Venusiano", apetrechos fantásticos, e perseguições automobilisticas com o 'Whomobile". Um verdadeiro "dândi", o Doutor de Pertwee é marcado por um figurino exótico, um apreço por bons carros, e por uma arrogância sem igual, se considerando superior a todos os membros da UNIT - talvez com razão. É com Pertwee que a chave de fenda sônica vira um instrumento comum. O terceiro caí vitima de envenenamento radioativo e dá lugar para...

O quarto Doutor: Tom Baker (1974-1981)

You may be a doctor, but I'm the Doctor. The definite article, you might say.
Sem dúvidas o mais famosos e icônico dos doutores "Clássicos", Baker manteve o papel por sete anos - mais do que qualquer outro Doutor - e de certa maneira é o Doutor "definitivo" para muitos fãs. Otimista, boêmio, e com uma mentalidade muito mais "alienígena" do que os anteriores, e uma vestimenta facilmente reconhecível, com o imenso cachecol, Baker é também o mais amigável dos Doutores clássicos.

Embora nos seus primeiros seriais fosse tão "herói de ação" quanto Pertwee, com o tempo foi se tornando mais disposto a negociar com o monstro da semana - ou oferecer uma jujuba - do que "cair na porrada". Apesar disso, foi Baker que protagonizou a maior e mais brutal cena de luta de Doctor Who, em "The Deadly Assassin".  O quarto morreu ao cair de uma torre de satélite, salvando todo o universo de ser dominado pelo Mestre, e deu espaço para...

O quinto Doutor: Peter Davison (1981 -1984)

Fifth Doctor: When was the last time you smelt a flower, watched a sunset, ate a well-prepared meal?Cyberleader: These things are irrelevant.Fifth Doctor: For some people, small, beautiful events is what life is all about!

Então o mais jovem ator a assumir o papel (aos 29 anos), título que só perdeu com a entrada de Matt Smith no papel, em 2009 (!!), o Doutor de Davison era um personagem mais vulnerável, de coração nobre e gentil, facilmente chocado pelos acontecimentos. Embora o quinto fosse o Doutor menos violento, suas histórias foram as com as maiores contagens de corpos - e foi o gentil, pacato e pacifico quinto que ficou sem fazer nada para ajudar enquanto o Mestre queimava até a morte.
Como de costume, o figurino de Davison também era marcado por esquisitices, mais do que os anteriores: isso inclui o detalhe de interrogação no colarinho, os óculos puramente estéticos, tênis junto com o que é essencialmente um traje eduardiano, e o mais bizarro: um talho de aipo preso a lapela, por algum motivo. isso foi escarnecido pelo décimo em um especial, em 2007.
Tenth Doctor: (Mocking his fifth self, to his face.) Hey! I'm the Doctor, I can save the Universe using a kettle and some string and look at me, I'm wearing a vegetable!
Novamente, o Doutor morreu vitima de envenenamento, usando a ultima dose de antidoto para salvar a então companheira, Peri, e no seu lugar tivemos que aguentar...

O sexto Doutor: Colin Baker (1984-1986)

This is a situation that requires tact and finesse. Fortunately, I am blessed with both.
O mais rejeitado dentre os Doutores - uma tentativa muito mau feita da BBC de deixar o personagem mais "sombrio" e mais "polêmico", o segundo Baker (sem parentesco com o Quarto Doutor) trouxe uma personificação instável, muitas vezes violenta, e que fazia o terceiro parecer extremamente humilde. Com o pior figurino da série (sério, ele parece um palhaço do inferno), nenhuma consideração pelos seus companheiros, métodos brutais de se livrar dos inimigos (incluindo jogar dois guardas em um tanque de ácido, e escarnecer em seguida) e um vocabulário digno de alguém que engoliu um dicionário, Colin Baker foi o primeiro - e único - Doutor a sair do papel por ser demitido pela BBC. Com uma morte indigna, deu espaço para...

O sétimo Doutor: Sylvester McCoy (1987-1989)

You can always judge a man by the quality of his enemies.
Depois de uma regeneração ingrata, basicamente "dando de cara no chão dentro da TARDIS", o sexto deu lugar ao sétimo em uma da mais patéticas cenas de regeneração da história de Doctor Who. Colin Baker se recusou a gravar a "sua" cena de morte, então o sexto foi feito de maneira pouco convincente por McCoy com uma peruca...

Dado a planos intricados, e usando do cérebro para manipular e ludibriar tanto inimigos quanto aliados, esta foi a encarnação mais intelectual - e mais insensível - do Doutor. Embora se recusasse a matar, não via problemas em traumatizar, ou em usar pessoas como ferramentas. McCoy retornou ao papel em 1996 para o filme de Doctor Who, onde é baleado no meio de uma briga de gangues, e é morto por uma médica incompetente que tenta retirar um dos seus corações, regenerando no...

O oitavo Doutor: Phil McGann (1996)

I love humans. Always seeing patterns in things that aren't there.
A versão mais breve do Doutor, protagonista de um filme para a TV que deveria ter relançado a série, sem sucesso. McGann trás um Doutor romântico, fascinado com a vida, a humanidade e o universo. McGann infelizmente não teve tempo de explorar o personagem, embora tenha retornado ao papel para algumas histórias em áudio. Depois de enfrentar o Mestre no que parecia a última vez, o Doutor ficou fora das telas até 2005, com...

O nono Doutor: Christopher Eccleston (2005)

Time travel is like visiting Paris. You can't just read the guidebook, you've gotta throw yourself in! Eat the food, use the wrong verbs, get charged double and end up kissing complete strangers - or is that just me?
As vezes cínico, marcado pela culpa, e dado a acessos de euforia, o retorno do Doutor após nove anos sem episódios novos o mostrava como o último sobrevivente da Guerra do Tempo, após a completa extinção dos Senhores do Tempo - por suas próprias mãos. Muito mais "urbano" e malandro do que seus antecessores, o Nono teve apenas uma única temporada, marcada pelo início da relação do Doutor com a jovem Rose Tyler, e a lenta revelação dos eventos horríveis por trás da Guerra do Tempo. Por vezes cruel, adorava explosões (praticamente explodindo ao menos uma coisa por episódio) e era muito seletivo com seus companheiros - o nono foi o primeiro Doutor a expulsar  alguém de dentro da TARDIS. Após absorver a radiação do vórtice do tempo, virou...

O décimo Doutor: David Tennant (2006-2010). 

You need to get yourself a better dictionary. When you do, look up "genocide". You'll find a little picture of me there, and the caption'll read "Over my dead body"!
Para os fãs "modernos", o Doutor definitivo: empolgado, eufórico e ao mesmo tempo impiedoso e misericordioso, o Doutor de Tennant abusava de referências a cultura pop, e a discursos longos - e extremamente acelerados. Embora sempre oferecesse uma chance para o vilão da vez de ir embora sem problemas, para quem recusava a oferta, reservava um destino pior  do que a morte. Foi o primeiro Doutor a se mostrar explicitamente apaixonado: embora tenha conquistado o coração de muitas mulheres, seus sentimentos eram focados apenas em Rose Tyler. Depois de perder Rose duas vezes, afastar vários outros companheiros, ganhar e perder uma filha, e apagar a mente de Donna Noble, além de causar a morte do único outro Senhor do Tempo vivo - o Mestre - o décimo se tornou um tanto suicida, e obcecado em evitar mortes a qualquer custo. Essa atitude lhe levou a se declarar acima das leis do tempo, e acima de qualquer autoridade - passando da linha. Depois de absorver uma dose imensa de radiação - e resistir a sua regeneração para se "despedir' de todos seus antigos companheiros - relutantemente regenera...

O décimo primeiro Doutor: Matt Smith (2010 - atual)

Amy Pond, there's something you better understand about me, 'cause it's important and one day your life may depend on it: I am definitely a madman with a box!
Ainda misterioso, o 11º Doutor tem um ar de "homem velho em um corpo jovem". Aos 26 anos, Matt Smith tomou o título de ator mais jovem a fazer o Doutor - e certamente, a versão mais excêntrica do personagem. Com gostos estranhos (empanados de peixe com creme de ovos?!), uma estranha obsessão por chapéus, e um grande apreço por gravatas borboleta, essa encarnação também consegue ser a mais imatura - a ponto do papel psíquico ser incapaz de virar alguma prova de que ele é um adulto responsável, pois a mentira seria grande demais. Resta agora saber até quando Smith ficará no papel - ao menos até 2013, está confirmado.

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