domingo, 18 de setembro de 2016

Baú de Brinquedos: a Força Extrema dos Centurions

Vindos do Futuro, Doutor Terror e seu companheiro Hacker unem suas forças para conquistar a Terra. Somente uma força pode deter esta trama. A união de três homens, que tendo invento os raios EXO, podem ser transportados para qualquer lugar. Utilizando um incrível sistema de armas de ataque comandado pela estação espacial Sky Vault, eles se tornam a força extrema, homem máquina. Max Ray, brilhante comandante das operações do mar. Jake Rockwell, especialista nas operações em terra. Ace McCloud, ousado especialista nas operações aéreas. Qualquer que seja o desafio, eles estão prontos. Os Centurions.

FORÇA EXTREMA era o lema de um dos múltiplos supergrupos que marcavam os desenhos matinais e as prateleiras de brinquedos nos anos 80: Centurions: Power Xtreme. Produzida pela Ruby-Spears em parceria com a Sunrise (que não chegou a ser creditada) em 1986, a série animada de 65 episódios era como muitas outras de seu tempo, um grande comercial de brinquedos, para a linha homônima da Kenner.
Exatamente tão bobo quanto parece.



E como muitas outras obras de seu tempo, Centurions foi uma daquelas coisas que durou muito menos tempo do que parece. Com um pedigree nobre - os personagens foram conceitualizados pelas lendas dos quadrinhos Gil Kane e JACK KIRBY - a linha falhou em em placas no mercado, sendo cancelada no ano seguinte sem sequer entrar nos personagens introduzidos no final de sua única temporada para sindicalização.

Como era de costume na época, Centurions era uma obra multimídia. Além dos brinquedos em si e o desenho, houve também uma mini-série em quadrinhos (que, ao contrário de quase todo o resto, não era da Marvel, mas sim da DC) e um sem número de pequenas histórias promocionais em catálogos,  manuais de instruções, jogos e produtos relacionados.



O desenho e o quadrinho


Como muitos desenhos da época, Centurions era uma série episódica sobre a eterna luta entre o bem e o mal, aqui representados pelos heróicos Centurions e as forças do perverso Doc Terror (o falecido Ron Feinberg), um cientista cibernético com planos de dominação mundial, um plano mirabolante por vez.
Hacker e Terror: as sobrancelhas espessas do mal

A equipe de elite dos Centurions era a única esperança do mundo contra as forças robóticas de Terror e seu comparsa Hacker (o finado entomologista Ed Gilbert). Liderados pelo brilhante e compenetrado especialista aquático Burt Reynolds err Tony Stark durp Tom Selleck Max Ray (Pat Fraley, o Kang de Tartarugas Ninja), a equipe usava o poder incrível das exo-frames, armaduras especiais que se combinavam com conjuntos de armas super poderosas ao grito de Força Extrema!
Os três originais: Max Ray, Jake Rockwell e Ace McCloud

Além de Ray, a equipe era composta pelo audacioso e destemido  especialista aéreo e pretenso galã Ace McCloud (Neil Ross), com mais sorte que juízo, o implacável e esquentadinho especialista em operações em terra Jake Rockwell (o também finado Vince Edwards), com um temperamento igualado apenas pelo poder de fogo de suas armas, e a operadora de sistemas Crystal Kane (a romancista Diane Pershing, a voz da Hera Venenosa do universo animado da DC), sempre a postos na estação orbital Sky Vault para enviar aos heróis suas armaduras. Perto do fim da série outros dois Centurions foram introduzidos: o programador e especialista em energia Rex Charger (Bob Ridgely, a finada voz de outro personagem que Kirby criou para a Ruby-Spears, Thundarr, o Barbáro) e o espião e infiltrador John Thunder (Michael Bell, o Prowl de Transformers), um dos múltiplos personagens indígenas criados para aumentar a diversidade na televisão americana.
Crystal Kane: sempre a postos

Enquanto os Centurions tinham seus incríveis sistemas de armas, as forças do tirano Doc Terror contavam com robôs especializados para cada campo de batalha: os Traumatizers, armados com lasers e usados para combate em solo, os Strafers voadores, os tanques Groundborgs e outros dois tipos de robôs não nomeados, para combate aquático e urbano. Além disso, os dois criminosos podiam combinar seus corpos cibernéticos com os de seus robôs, em uma resposta grotesca aos exo-frames dos heróis. E Terror contava com seus ocasionais aliados (por algum motivo. Raramente os episódios davam bons motivos para o vilão da semana se aliar a um gênio da cibernética com planos de converter o mundo em ciborgues).

John Thunder: um dos novos membros do finalzinho da série.

Para um comercial de brinquedos prolongado, a série contou com uma excelente equipe criativa: entre seus roteiristas estavam o lendário quadrinista Gerry Conway - responsável pela célebre A Noite em que Gwen Stacy Morreu, o roteirista Marc Scott Zicree (de Jornada nas Estrelas: Primeiro Contato), o (então futuro) vencedor do Emmy Michael Reaves (de Batman: The Animated Series) e o onipresente roteirista de séries do gênero Larry DiTillio (que na década seguinte seria responsável por Beast Wars). Apesar disso, Centurions falhou em emplacar. Cancelada sem alarde pela Ruby Spears, a série teve sua segunda metade exibida fora de ordem. Ironicamente, após o cancelamento da linha de brinquedos, Centurions obteve sucesso como parte da programação inicial do Cartoon Network, sendo exibido no canal americano até meados dos anos 90.

Duas minisséries em quadrinhos foram produzidas para promover a linha. Nos EUA, a DC Comics publicou uma série de quatro edições, com roteiro de Bob Rozakis e arte de Don Heck. Publicada em 1987, a série veio tarde, e rapidamente foi ignorada pela editora. Já no Reino Unido, a London Editions Publishing lançou a revista Centurions Monthly em 1987, juntando as histórias da revista americana com material novo e algumas histórias de ficção científica reaproveitadas da DC, incluindo algumas obras do britânico Brian Bolland.

Os brinquedos


Isso tudo servia para vender uma das mais excêntricas linhas de brinquedos da época. Enquanto as linhas concorrentes dividiam sua receita entre a venda dos bonecos e a venda de veículos e playsets para os ditos bonecos, Centurions tomava um caminho inesperado: e se os veículos fossem os bonecos?
Possivelmente a pior ideia do mundo: o Wild Weasel.

Não no mesmo sentido que os Go-Bots ou os Transformers: a linha de centurions se dividia em três partes: os centurions em si - bonecos levemente maiores que os concorrentes da linha G.I. Joe - os vilões (dos quais foram lançados apenas Hacker, Doc Terror, os Strafers e os Traumatizers) e os conjuntos de armas para os Centurions.

Doc Terror (com seu capacete). 


Os bonecos tinham juntas simples nos ombros e quadris, junto com dobras nos joelhos e cotovelos e uma rotação no pescoço. O corpo era dotado de vários pontos de conexão para acessórios e armas, e o ponto de conexão central era uma engrenagem que ligava o acessório do peito aos gimmicks das costas.
Funfact: a pessoa que tirou essas fotos (de catalogo) montou o Cruiser ao contrário.

As figuras básicas de cada Centurion vinham com o conjunto de equipamentos mais leve de sua especialização: Cruiser para Max Ray, Sky Knight para Ace McCloud e Fireforce para Jake Rockwell. Os conjuntos maiores eram vendidos separadamente, e suas peças podiam ser combinadas à vontade para gerar novos e mais ridículos sistemas de armas. Rockwell, sozinho, teve mais conjuntos que seus colegas somados.

Uniborg: Simmetrical Docking seis anos antes do Ultra Raker


Os vilões tinham seu próprio gimmick: além dos pontos de conexão espalhados pelo corpo, as quatro figuras malignas podiam ser divididas ao meio. As metades robóticas de Terror e Hacker contavam com articulação dupla para que pudessem ser invertidas e usadas um no outro, enquanto os robôs serviam de “upgrade” para os vilões. As duas metades robóticas dos criminosos, Sintax e Legion, também podiam ser combinadas no vilão Uniborg.

Rex Charger, nunca lançado.


Apesar (ou talvez devido ao) do play pattern único, os Centurions tiveram vendas esparsas. A segunda onda de brinquedos, com mais conjuntos de armas para os três originais e os bonecos de Thunder e Charger, não chegou a ser lançada fora de alguns poucos itens em mercados - que não incluíam os novatos - distantes (provavelmente como descarga de estoque encalhado da Kenner). Cada um teve duas armaduras projetadas - uma básica, para vir junto com o boneco, e uma de artilharia.


E agora?


Centurions sofreu do mesmo problema que muitas séries do seu tempo: com o vencimento dos contratos, a série e a linha entraram em um limbo jurídico, não auxiliado pela falência da Ruby-Spears em 1996 (depois de vender boa parte de sua biblioteca para a Turner Broadcasting System - posteriormente vendida para a Time Warner) e da Kenner (vendida para a Hasbro) em 1991.

As circunstâncias da criação de Centurions - uma parceria entre as duas empresas e a DC- e a distância entre as atuais proprietárias das partes da franquia deixam Centurions no limbo. Em 2011, a Warner relançou a série toda em DVD. No entanto, assim como ocorria com Rom Spaceknight, sem um acordo, nem a Warner nem a Hasbro podem usar os personagens - embora  a Hasbro não descarte Centurions para uma fase posterior de seu universo compartilhado em quadrinhos e cinema - bem no fim da lista, dada a obscuridade da linha.

Ironicamente, o play-pattern de Centurions hoje vive na concorrência: boa parte dos brinquedos de Max Steel, o boneco que surgiu como resposta da Mattel para o revival de Action Man no começo da década passada, hoje operam na base de “acessórios universais encaixados pelo corpo”. Porém onde Centurions tinha três dudebros com armas e accessórios, Max Steel tem um e um monte de vilões.

Eu, pessoalmente, acho que Centurions caberia melhor na IDW do que Action Man ou Micronauts. Mas isso é minha opinião. Eu também sou o mané que acha que Zoids deveria ser parte do universo de Transformers. E não só pra explicar o alt-mode do Leo Convoy.



Um comentário:

  1. A Taft (dona da HB) comprou a Ruby Spears em 1981, em 1990, a Turner contratou a HB pra produzir Tom & Jerry e no ano seguinte, comprou as duas empresas, a RB atuou como independente por anos, mas depois que a Warner comprou em 1996, ela fechou a empresa, na época, a Warner se tornou a maior empresa de mídia, hoje em dia é a Disney depois que comprou a Marvel e a LucasFilm, citei os Centurions em um texto sobre discos ópticos em Seis Biônicos
    http://quadripop.blogspot.com/2016/02/o-futuro-nos-desenho-animados-os-seis.html

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