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quarta-feira, 22 de março de 2017

Spencer, meus parabéns: você ACABOU com o Capitão América

Quando eu achava que as coisas não podiam ficar piores... Nick Spencer vai e mete mais um retcon na história do Capitão América: que a versão do herói que foi alterada por um cubo cósmico era a versão HERÓICA e que o que o Caveira Vermelha fez com ajuda do cubo senciente Kobik foi desfazer as alterações feitas por um cubo cósmico durante a segunda guerra mundial - cubo cósmico usado para impedir que Adolph Hitler vencesse a guerra (como fica aquele papo que "A Hydra não é nazista" mesmo?).

Como se já não bastasse a cena (desnecessária e insultosa) de Rogers dizendo a um Tony Stark em coma que "tudo que viria era para destruir tudo aquilo que ele fez".


Ao longo dos anos, a Marvel fez muita coisa idiota com seus personagens. Criou meia dúzia de Hulks diferentes, fez o Coisa usar uma máscara de Bobba Fett barata, revelou que o Homem de Ferro era um super vilão e depois desfez isso transformando ele em um adolescente. Criou o imenso imbróglio que foi a Saga do Clone, toda a confusão que são os quadrinhos dos X-Men, forçou todos os seus heróis em armaduras HARDCOREEEEEE nos anos 90, encalhou seus personagens em mega-eventos sem pé nem cabeça pelas duas décadas do século XXI e nem vamos tocar no fiasco de One More Day.

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Conservadores, entendam: o Capitão América não é um dos seus

Esta semana, a Mecca do conservadorismo americano se envolveu em uma polêmica fabricada. A Fox News deu um legítimo chilique com a trama de Captain America: Sam Wilson #1. O problema? O já-não-tão-novo Capitão América agir como... Capitão América.


Explicando melhor: a revista, escrita por Nick Spencer mostra o herói cortando seus laços com o governo americano e com a S.H.I.E.L.D. para se focar nos problemas do povo. A decisão do ex-assistente social de lidar com questões políticas que afetam a população carente diretamente é recebida com gritos de “Capitão socialista” e “Não é o meu Capitão América”. Bem como fez a Fox News.

Em sua primeira aventura, Sam lida com um problema muito real: a xenofobia enfrentada pelos imigrantes vindos do México. Problema representado pelo grupo extremista Filhos da Serpente, uma alegoria clara para a Ku Klux Klan, que estava matando quem tentava a travessia.


A fúria e indignação dos conservadores - expressa primariamente através da fox News - foi clara. Para os apresentadores do programa Fox&Friends (por o vídeo), a revista era “um ataque a conservadores” e uma afronta aos EUA. É importante ressaltar que o que incomodou a Fox News não foram os valores dos Filhos da Serpente (novamente, uma representação da KKK), mas o fato deles serem lidos como os vilões.  


Entre as queixas, repetidas por outros autores conservadores, estavam o Capitão América não estar “impedindo imigrantes que estavam trazendo traficantes e estupradores para América; um pedido de retorno aos “velhos tempos em que o Capitão socava Hitler”; que os liberais* “criassem o seu próprio Capitão América”; e que “deixassem política fora dos quadrinhos”. Além disso, se chocaram com o fato do líder do grupo ser um americano, e não “um radical islâmico, um membro da ISIS, determinado a destruir a civilização ocidental”.




Inimigos “novos”?


Então vamos por partes: Não é de se admirar que a Fox News não perceba que a sua narrativa quanto a imigração é extremamente xenófoba. Tanto que ela repete clichês racistas emitidos pelo pré-candidato a presidência Donald Trump. Em sua visão de mundo, obviamente alguém chamado Capitão América deveria manter essa visão “patriótica” de “América para Americanos”. Nessa linha de pensamento, um grupo armado de “cidadãos de bem” protegendo a nação contra “os imigrantes” só poderiam ser os heróis - e é um tanto assustador que uma das maiores redes de notícias dos EUA tome o partido da KKK.


A Fox News e seus colegas em sites como Breitbart.com, Daily Caller e o colunista Allen B. West (que hilariamente disse que Sam Wilson era “O corvo”) trataram os filhos da Serpente como algo novo. Como se fosse um sinal dessa “ditadura do politicamente correto” e esses “tempos loucos” com um Capitão América NEGRO. Exceto que o grupo não é nada novo: a primeira história envolvendo a caricatura da KKK foi publicada em 1966 - antes do surgimento do Falcão.


A retórica do grupo é a mesma de todo grupo xenófobo de extrema direita: “Eles estão roubando nossos empregos”, “eles são criminosos e parasitas”, ‘são uma ameaça a pureza nacional”, o mesmo discurso pronto de ódio visto contra imigrantes, minorias raciais, étnicas e religiosas desde que o mundo é mundo. E que hoje no Brasil é vista contra os imigrantes haitianos e começa a ser vista contra os refugiados sírios.


E é um discurso contra o qual o Capitão América sempre se opôs, desde sua criação - não sem motivo, dado que esse era o discurso da Alemanha Nazista contra os judeus. O detentor original do título, Steve Rogers, era ele próprio filho de imigrantes irlandeses. O único detentor “oficial” do escudo que apoiaria o discurso dos Filhos de Serpente é John Walker - criado justamente como crítica a mentalidade reacionária da direita republicana.

Capitão América anti conservador? Sim: desde 1942


Nixon desmascarado, provavelmente.
Os Filhos da Serpente (em suas multíplas iterações) não são o único grupo de extrema direita contra o qual o Capitão América se opôs. Em 1987, John Walker enfrentou os Watchdogs - com cujos ideais ele simpatizava. O grupo se opunha ao “feminismo, comunismo, homossexualismo, aborto, pornografia, casamento interracial e imoralidades” (soa familiar?). Em 1974, Steve Rogers e Sam Wilson enfrentaram o Império Secreto, que incluia vários membros do alto escalão do governo Nixon (incluindo o próprio Nixon). A conspiração visava instalar uma ditadura conservadora nos EUA, sob a desuclpa de “combater a ameaça comunista”.


Os Watchdogs, queimando livros "imorais". 



O personagem que trajou o uniforme nos anos 50, William Burnside (o Cap dos sonhos da Fox News), posteriormente se tornou o Grão Diretor, um dos líderes da Força Nacional. O grupo era essencialmente o partido nazista americano. Burnside também foi membro dos Watchdogs, e fez parte (inadvertidamente) de um complô conservador para colocar “um verdadeiro americano” na presidência - dito “verdadeiro americano” era um fantoche do Caveira Vermelha.


Além disso, muitos de seus inimigos menores estão alinhados com a direita conservadora dos EUA. Ossos Cruzados, antes de se unir a Hydra, era um miliciano neonazista. O Flagelo do Submundo era um vigilante movido a idéia de “bandido bom é bandido morto” (muito como o Justiceiro, que Rogers e Wilson se recusam a ver como “herói”). Esmaga-Bandeiras era um radical anti estado, ligado a um subgrupo em particular da direita americana, os Sovereign Citizens**. Nuke, por sua vez, representa o nacionalismo cego na forma de um soldado psicótico devotado a sua versão distorcida do país. O Capitão também conquistou a inimizade das forças armadas (ao fazer a coisa certa, e se opor a golpes de estado, esquemas de financiamento de rebeldes, bombardeios “por precaução” e outras medidas tão comuns. 

Alguns anos atrás, Sam e o então capitão América James "Bucky" Buchanan Barnes
lidaram com o fascismo por trás do discurso do Tea Party. Na trama, o movimento era
uma fachada para o Caveira Vermelha. 


Dos (muitos) inimigos de extrema direita do Capitão, o mais bizarro é Hate Monger, criado em 1963 (no Quarteto Fantástico), vulgo o clone de Hitler. Munido de um “raio de ódio”, o clone de Hitler se vestia como um membro da KKK, e o discurso narrativo por trás dele era óbvio: se você se alinha com a KKK, você se alinha com Hitler.


Até nos seus primeiros quadrinhos, na Era de ouro dos quadrinhos, Rogers enfrentava não só a “ameaça nazista”, como também a ameaça de grupos extremistas dentro dos EUA. A primeira encarnação do Caveira Vermelha, George Maxon, era um empresário americano que se aliou aos nazistas por crer que os ideais de Hitler eram “o melhor para os EUA” (caracterização dada muito mais tarde, por sinal: na sua curta aparição em Captain America #1, Maxon só faltava ter um bigodinho para torcer e fazer “mwhahahahah” para ser a caricatura de um vilão).


“Tirem a política dos quadrinhos”.


"Apolítica"?
O pedido por “tirar a política dos quadrinhos” chega a ser cômico, especialmente se tratando de Capitão América, um super herói que nasceu como parte de um discurso político. A começar pela famosa capa do Capitão dando um murro na cara do Führer: em março de 1941, quando a revista foi publicada, os EUA ainda não haviam entrado na 2ª guerra mundial, e a maior parte da população e do congresso eram contra a participação dos EUA no conflito.


Com o personagem, Joe Simon e Jack Kirby davam uma mensagem clara: na visão deles, os ideais americanos eram incompatíveis com a ideia de “deixar Hitler de lado”. Da mesma maneira, o “übermensch” ariano era usado como o herói - um supersoldado loiro de olhos azuis, fruto da ciência nazista - para deixar claro que o verdadeiro “superhomem” jamais compactuaria com o nazismo. Lembrando que Rogers é um progressista para os padrões de hoje. Imagine então para os padrões dos anos 40.


Os conservadores fizeram um pedido de que os “liberais” criassem seu próprio Capitão América. Como Kurt Busiek fez questão de notar no Twitter, eles já o fizeram, em 1941. Vale lembrar que Jack Kirby e Joe Simon eram New York intellectuals progressistas, alinhados com o “New Deal” e muito mais próximos do socialismo do que do conservadorismo. Antes de trabalhar com super heróis, Simon fora um cartunista político, e a dupla criou o Capitão na intenção de fazer um discurso político. E que foi reapropriado pelo sistema como um ícone de propaganda.


John Walker: o Capitão dos sonhos dos conservadores.
E um fantoche do Caveira Vermelha. 
O Capitão América original sempre foi um “liberal” progressista e anti nacionalista. Isso não é uma invenção recente, nem uma “jogada publicitária” alinhá-lo com a esquerda americana. Da mesma maneira, Sam Wilson foi criado como um assistente social e ativista e seu surgimento foi inspirado pelos ativistas em movimentos contra o racismo no final dos anos 60. A última coisa que essas duas versões do personagem seriam é conservadores, nacionalistas e “patriotas”. Quem é assim é John Walker, o Agente Americano, que foi criado para ser tudo que o Capitão América não deveria ser (e para ser o Capitão que os republicanos gostariam de ter a seu serviço).


E assim o personagem sempre foi. O Capitão América lutou contra o racismo nos anos 60 (e ao fim da década, estreou o Falcão em suas páginas). Enfrentou a corrupção no governo americano e o autoritarismo nos anos 70; largou o patriotismo cego após Watergate, vagando pelo país como o Nômade. Novamente abriu mão do título quando o governo lhe exigiu que trabalhasse para o governo Reagan, nos anos 80, à época do escândalo Irã Contra. Discursou contra a homofobia em uma época que a editora proíbia de se falar “gay”. Reconheceu os crimes cometidos pelos EUA ao longo do século XX. Discursou contra a islamofobia no auge do pânico sobre terrorismo e se opôs de multiplas formas (algumas metafóricas, outras explícitas) aos ataques a liberdades civis e de informação durante a “Guerra ao Terror”.


Até as histórias usadas no cinema são profundamente políticas. O primeiro vingador tem o mesmo discurso contra patriotismo cego que sempre marcou o personagem (pra ressaltar: o que motiva Rogers a se alistar no exército não é a ideia de que “a América é Grande”, mas o reconhecimento que o Nazismo não está tão distante dos EUA). Soldado Invernal trata da questão de “ataque preventivo” e afirma explicitamente que a política externa dos EUA (“gentil demais” para os republicanos) é algo que sairia da mente de um nazista. Guerra Civil, por sua vez, se baseia em uma história que discute serviço militar obrigatório, direito a informação, liberdades civis e direitos humanos.
Nada mai anos 90 que isso. 


Basicamente, “tirar a política do Capitão América” é torná-lo uma sombra de si mesmo, um personagem irrelevante (como, em minha opinião, ocorreu quando Rick Remender jogou ele em outra dimensão, ou quando ele virou um lobisomem - sim, isso aconteceu!). E dado o histórico do personagem, ele nunca deveria agradar os conservadores da Fox News, que se compadecem por estarem falando mal da Ku Klux Klan.


Mas e o Estado Islâmico?


Dá pra ver que é "apolítico" e "nacionalista"...
Quanto ao choque do apresentador da Fox News, Clayton Morris (auto proclamado especialista no personagem) do Capitão estar enfrentando conservadores e não o estado Islâmico? Bem, uma pergunta simples: o que é uma ameaça maior à democracia americana, um grupo terrorista cuja zona de influência está no Iraque e na Síria, ou radicais nacionalistas e xenófobos despejando discurso de ódio dentro do país?


Imigração moldou e formou os EUA. Esperar que o Capitão América - a representação de tudo que o país deve e pode ser - vá e lute contra ela com base em argumentos de ódio é absurdo. Desde seus tempos como o Nômade, o que o Capitão América mais combateu foi a podridão interna dos EUA: a corrupção, a desigualdade, o ódio, o preconceito, a ignorância. E é justamente isso que Sam Wilson está fazendo: combatendo a ala podre da sociedade americana. Pena que alguns tenham se sentido ofendidos pelo personagem estar lutando contra a KKK, e não ao lado dela.


O Capitão de Ultimates: reacionário,
nacionalista e bruto.
Eu até acho engraçado que tantos conservadores (aqui e lá) digam adorar o Capitão América. Talvez porque tenham lido a versão de Mark Millar para o personagem na linha Ultimates, esse sim um reacionário xenófobo, arrogante, e disposto a fazer qualquer coisa “pela América”. Ou mais provavelmente porque não leiam, e achem que “Capitão América” só pode ser um cara conservador, moralista e militarista - como insistem as críticas ignorantes de parte da esquerda.


Mas para esses conservadores e libertários que querem um herói mais parecido com eles, posso recomendar alguns. Para começar, o Justiceiro (para quem bandido bom é bandido morto, ressalto). Embora tenham saído de linha, o Agente Americano (vulgo, o Capitão América que existe na cabeça deles) e o Fighting American. Questão, Senhor A e Rorschach - todos radicais objetivistas, embora o Questão tenha se tornado muito mais do que isso nas mãos de Dennis O'Neill; O Homem de Ferro (criado como uma réplica do herói Randiano John Galt), o homem que se fez sozinho, sem ajuda de ninguém, e sem depender do Estado; Hal Jordan (por muito tempo, O cara de direita no universo DC, colocado em oposição eterna ao Arqueiro Verde) e é claro, a versão de Frank Miller para o Batman (o extremo do libertário radical, um sovereign citizen com MUITO dinheiro e que não reconhece a autoridade do Estado).


O terrorista sendo interrogado é posteriormente
jogado em um triturador.
Mas para os que pensam como a Fox News, e querem alguém que pense justamente como eles, eu recomendo outra obra de Frank Miller: Terror Sagrado. Nela, vão achar toda a demonização de estrangeiros (especialmente árabes) que podem sonhar, e “heróis” durões dispostos a torturar e matar os inimigos da civilização ocidental.




* A centro esquerda americana

** Movimento libertário radical que não apenas se opõe a autoridade do Estado e das leis, mas crê que as mesmas não se aplicam a eles por motivos... confusos.  

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Minorias nas HQs: Sam Wilson, o primeiro super herói Afro-Americano.

Há muito tempo, eu falei de um dos poucos super heróis negros que não levava “negro” no nome, o Senhor Incrível (Mister Terrific, em inglês). Agora retomo o tão parco tópico dos super heróis negros no mainstream de quadrinhos para falar do primeiro super herói Afro-Americano (e um dos primeiros super heróis negros), Sam Wilson, o Falcão (hoje, Capitão América).

Surgindo em Captain America #117, três anos após a criação do primeiro super herói negro, o Pantera Negra, Sam Wilson não surgiu como “astro principal”. Nos seus primórdios, era o coadjuvante do Capitão América, mas diferente de outros Sidekicks negros, abundantes na era de ouro, estava longe de ser um alívio cômico.

A roupa original, em verde e laranja. 
O primeiro herói afro-americano era tudo menos um clichê ambulante (e levava também o título de ser o primeiro super herói negro a não levar “negro” no nome). Sam Wilson era um reflexo da sua época: Criado por Stan Lee e Gene Colan como uma resposta aos movimentos civis do final dos anos 60, e uma demonstração da tendência da Marvel (à época) de estar na Vanguarda:

...No final dos anos 60, [quando notícias da] Guerra do Vietnã e dos protestos por direitos civis eram ocorrências regulares, e Stan, sempre querendo estar na vanguarda das coisas, começou a trazer essas manchetes para os quadrinhos...Um dos maiores passos que tomamos neste sentido foi em Capitão América. Eu gostava de desenhar pessoas de todos os tipos.  Eu desenhei quantas pessoas diferentes eu podia dentro das cenas que eu ilustrei, e eu amava desenhar pessoas negras. Eu sempre achei suas feições interessantes, e tanto de sua força, espírito e sabedoria esta escrito em suas faces. Eu falei com Stan, como eu lembro, com uma ideia para introduzir um herói afro-americano, e ele aceitou de imediato... Eu olhei em várias revistas Afro-Americanas, e as usei como a base de inspiração para trazer o Falcão à vida” Gene Colan, em entrevista a Marvel, 2008.

A caracterização acumulada de Wilson conseguiu abraçar a identidade negra urbana dos EUA, sem fazer disso um caso de blackexpoitation. Samuel Thomas Wilson era filho de um pastor do Harlem, cujas experiências com o racismo o deixaram abalado e amargurado, e em choque após o pai ser morto apartando uma briga entre vizinhos. Dessa amargura vieram duas caracterizações diferentes: a criada por Lee e Colan, e a criada por Steve Englehart.

Origens divergentes

Originalmente, o personagem era um agente social farto da situação do país e que buscava remediar a falta de oportunidades para os jovens do interior de Nova York. O rapaz havia treinado um falcão (Asa Vermelha, nomeado cinco edições depois). A carreira heróica de Wilson (então sem nome) começa quando um grupo “em uma ilha nos trópicos” posta um anúncio buscando um falcão de caça. Descobrindo que os tais “exilados” eram neonazistas a serviço do Caveira Vermelha, Sam assume a identidade do Falcão, e com ajuda de Steve Rogers, libera o povo da ilha.

Capitão America e Falcão: a dupla dinãmica
da Marvel
O sucesso foi imediato, e o Falcão se firmou na posição que antes pertencia a James “Bucky” Buchanan Barnes. Entre 1971 e 1976, a revista chegou a ser rebatizada como “Capitão América e Falcão”. Mas enquanto Barnes era o típico “garoto prodígio” dos anos 40 - capturado com frequência alarmante, fonte inesgotável de piadas e mais inútil do que uma tocha debaixo d’água - Sam se firmou como um herói em seu próprio direito.

A essa altura, Sam Wilson havia deixado de ser o único super herói Afro-Americano, após a DC lançar John Stewart (que ganhou fama anos mais tarde graças ao desenho da liga da Justiça) em 1972,e a própria Marvel lançar Luke Cage, o Power Man, no mesmo ano. No entanto, continuava (e até hoje continua) uma minoria. Era um dos poucos heróis negros que não era “mano do gueto” ou “africano”, e um dos únicos que não falava ‘jive.

Até então, havia evitado com sucesso os estereótipos negros. Do uniforme original (verde e laranja), passara para a memorável roupa vermelha e branca, com um arnês de voô. O elo com Asa Vermelha se revelou telepático. O herói moldava-se de fato em um super herói, até que em 1975, sob a pena de Steve Englehart, a carreira impecável do Falcão sofria seu primeiro baque.

Englehart, por motivos que só ele mesmo sabe, decidira que Wilson precisava de uma história de origem nova. E que essa história tinha que reescrever tudo que se sabia sobre ele. Na trama, leitores descobriram que Wilson não era um agente social: era um gangster ao estilo do filme Super fly. Ao invés de ser enganado por capangas do Caveira Vermelha, Wilson foi parar junto aos exilados “a caminho de um negócio no Rio”, seu passado uma falsificação criada pelos poderes do Cubo Cósmico. O novo background não foi bem recebido (e é ignorado por todos).

De vingador a Capitão América

Daí pra frente, Wilson voltou a ascensão: tornou-se Vingador (entre 1979 e 1980) e retornando ao grupo permanentemente em 1998 (mantendo-se como personagem coadjuvante após a reformulação dos vingadores em 2004). Após a Guerra Civil, quando foi um dos líderes dos “Vingadores Secretos”, Wilson se torna responsável pelos super heróis no Harlem. A tentativa de Retcon de Englehart, embora oficialmente reconhecida, permanece como uma mancha vergonhosa na carreira do herói.

As diferenças entre Sam e Bucky foram um dos enfoques da
temporada de Barnes como Capitão América
Durante a excelente fase de Ed Brubaker escrevendo Capitão América, o Falcão voltou a uma posição de destaque após a morte do ícone, no final da Guerra Civil. Embora a revista então pertencesse a James “Bucky” Buchanan Barnes, Sam e e agente da Shield Sharon Carter tinham tanto destaque quanto o novo capitão América. A diferença de mentalidade entre os dois heróis e a maneira como o trio se relacionava com o legado de Steve Rogers gerou boas histórias - em particular lidando com o auto proclamado sucessor do capitão, William Burnside.

Na década seguinte é que viriam as grandes reviravoltas: depois de quase cinquenta anos como coadjuvante do Capitão América, Sam Wilson assumiu a posição em 2014. Infelizmente, logo antes do evento “Axis”, que viu vários heróis terem suas personalidades invertidas, e Sam se tornou a versão mais fascista do Capitão América (sim: mais que William Burnside). Ao contrário do Homem de Ferro, Sam retornou ao normal ao fim da história.

Com a reinvenção do universo Marvel em andamento após a nova Guerra Secreta, Wilson permanece como o Capitão América - até quando, não se sabe. Embora eu tenha problemas graves com a maneira em que Steve Rogers foi retirado da função (tendo o soro do super soldado drenado de seu corpo por um vilão nunca antes visto), Sam merece o cargo - mais do que Barnes, que há muito admitiu não ser apto a representar o mesmo que Rogers.


Outras Mídias

Enquanto isso, nos cinemas, o Falcão surgiu como coadjuvante do Capitão América em O Soldado Invernal. A atuação de Anthony Mackie se mantém fiel à essência do personagem (embora o altere de “agente social” para “veterano orientador de um grupo de apoio para Stress pós Traumático”), e assim como nos quadrinhos, mostra que não é necessário ser “gansgsta” para ser um personagem negro. O personagem teve aparições em Era de Ultron e Homem Formiga. Resta esperar para ver se ele será o capitão América nos filmes também. Mackie está confirmado para Capitão América 3: Guerra Civil, que terá também a estreia da versão cinematográfica de Asa Vermelha, um drone ao invés de um pássaro.  

Já na televisão, Wilson deu as caras em várias séries animadas. Na comédica Super Hero Squad, foi dublado por Alimi Ballard, e servia como desastrado piloto de plantão da equipe, assim como o lembrete ambulante do Hulk. Fez parte da formação dos vingadores na abismal Avengers: United They Stand, dublado por Martin Roach. Também deus as caras em três episódios de Avengers: Earth’s Mightiest Heroes, dubaldo por Lance Reddick. Em sua curta aparição, Wilson estava sob controle mental do Caveira Vermelha. E como quase todo mundo da Marvel, fez uma ponta no Anime Marvel Disk Wars

Avengers Assemble: de braço direito do Capitão à novato fanboy
de Tony Stark,
Sua maior aparição televisiva foi em Avengers Assemble!, dublado por Bumper Robinson. Infelizmente, o maior papel que o personagem teve na TV foi menos fiel aos quadrinhos: aqui, Wilson é um agente da S.H.I.E.L.D. de 17 anos, um fanboy do Homem de Ferro, e sem nenhuma conexão com o Capitão América. Isso marca um dos maiores problemas da série: a tendência de atribuir aliados, feitos e inimigos de outros heróis ao Homem de Ferro (que também roubou o Caveira Vermelha como nemesis do Capitão). Essa versão do Falcão deu as caras também em Ultimate Spider-man.

Como parte da lista C da marvel e lentamente ascendendo á lista A, Sam Wilson teve algumas aparições em jogos de videogame: os jogos de LEGO da Marvel, os jogos de Super Hero Squad e o gigante da Disney Disney Infinity. Ele também apareceu como um personagem não jogável no MMORPG Marvel Heroes, como um aliado.

O primeiro herói afro-americano hoje tem mais força e mais destaque do que teve em quase toda sua história. Impactante o bastante para levar a revista a mudar de nome nos anos 70, hoje Sam é o protagonista de Capitão América. Nada mal para quem começou como um “segundo Robin” para o Sentinela da Liberdade.