Acho que não há desenho mais erroneamente chamado de anime do que o desenho original de Transformers, e até é fácil de entender como as pessoas chegam a essa conclusão. Afinal, se Voltron, Robotech, G-Force, Zillion e Starblazers eram desenhos japoneses reeditados, e os bonecos de Transformers eram bonecos japoneses renomeados, logicamente, Transformers era um desenho japonês editado, certo? Não tinha um desenho japonês chamado
Fight! Super Robot Lifeform Transformers? É o original, não?.
Bem... essa conclusão não poderia estar mais errada... Sim, Transformers foi fruto de adaptações de uma série japonesa -
de brinquedos. Em 1983 a Hasbro adquiriu um bocado de coisas das linhas
Diaclone e
Microchange (ironicamente, Microchange era um derivado de Microman, que surgiu a partir dos bonecos de G.I. Joe), e inicialmente o plano era usar a ficção "original" de Diaclone.
Só tinha um problema: o material de origem era incompreensível, sem uma série animada ou quadrinho que contasse, só alguns livretos junto com cada boneco. Diaclone era sobre robôs gigantes feitos na terra, contra insetos e répteis robóticos do espaço - e eram robôs pilotados, para ver o quão diferente de Transformers o conceito era. Já a linha Microchange... Sabem o porque o Megatron de geração 1 vira uma arma? Ou o Soundwave um gravador? Os bonecos de Microchange eram em "tamanho real", e isso gerou algumas bizarrices em Transformers.
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Esse cara. |
A ficção de Transformers não veio do Japão. Não, ela veio de uma das maiores fontes de super-heróis e de ideias de gerico que deram certo no mundo: A Marvel Comics, a pedido da Hasbro. O responsável pela maioria dos personagens e dos nomes? O nova iorquino
Bob Budiansky, que fãs da casa das ideias talvez conheçam também como o criador do Sonambulo, ou como o editor do Homem-Aranha entre 94 e 95. Budiansky já tinha um pouco do mythos de Transformers preparado anteriormente pelos editores da Marvel Jim Shooter e Dennis O'Neil - material rejeitado pela Hasbro, e que ele "consertou" em uma semana.
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AKOM: Ignorando escala desde 1986 |
Mas a animação é japonesa, certo? Beeem... Sim, e não: a produção do desenho original ficou a cargo da Sunbow Productions, enquanto a Marvel preparava os roteiros. O design de personagem foi em grande parte do filipino
Floro Dery, em cima da arte conceitual dos bonecos. De fato, parte da animação foi feita por estúdios japoneses, entre eles a Toei e a Tokyo Movie Shinsha. Mas também foi feita por vários estúdios coreanos, entre eles a infame AKOM. E se formos considerar como sendo um Anime por causa disso, bem, tudo em termos de animação é anime. Os Simpsons foi animado pela Toei; Batman The Animated Series, idem. Caverna do Dragão, também.
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Um pequeno exemplo da ruindade da
animação de Energon/Superlink |
Porém essa situação se aplica ao desenho
original de Transformers,
Transformers Animated,
Prime,
Beast Wars e
Beast Machines (essas duas animadas e produzidas no Canadá).
Robots in Disguise, sim, é um desenho japonês, enquanto a trilogia do Unicron é um caso nebuloso:
Armada,
Energon e
Cybertron foram produzidas no Japão, sobre roteiros e conceitos feitos nos EUA (tirando Galaxy Force, que jogou fora tudo que a Hasbro mandava, aparentemente). Energon também sofre com animação
muito ruim, com uma CGI vastamente inferior a de Beast Wars, seis anos antes.
O que há de séries japonesas de fato de Transformers?
Headmasters,
Masterforce e
Victory se propõe como continuações de G1 (sem muito sucesso, diga-se de passagem). Headmasters se encaixa um pouco melhor no todo, mas as duas últimas são muito mais parecidas com Yuusha e super-robôs em geral do que com Transformers. Zone é um OVA francamente esquecível, e quanto menos se falar das
continuações japonesas de Beast Wars, melhor.
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Vilões incríveis como o cisto mágico, Devil Z! |
De forma geral, as séries japonesas de Transformers são marcadas por piadas desnecessárias, humor juvenil, coisas sem explicação alguma, e no caso de Masterforce e Zone, vilões que nada tem a ver com Transformers. Para não mencionar deixar as personagens femininas ainda menos presentes (ou cortar elas fora, como fizeram com a Airrazor, tornando ela um guri). E pior, parte desses problemas se estendem as dublagens, como a quantia obscena de piadas sem necessidade na dublagem de Beast Wars. Os bonecos japoneses podem ser melhores, mas a ficção é pior, muito pior.