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quarta-feira, 9 de maio de 2012

Não é anime: Transformers

Acho que não há desenho mais erroneamente chamado de anime do que o desenho original de Transformers, e até é fácil de entender como as pessoas chegam a essa conclusão. Afinal, se Voltron, Robotech, G-Force, Zillion e Starblazers eram desenhos japoneses reeditados, e os bonecos de Transformers eram bonecos japoneses renomeados, logicamente, Transformers era um desenho japonês editado, certo? Não tinha um desenho japonês chamado Fight! Super Robot Lifeform Transformers? É o original, não?.


Bem... essa conclusão não poderia estar mais errada... Sim, Transformers foi fruto de adaptações de uma série japonesa - de brinquedos. Em 1983 a Hasbro adquiriu um bocado de coisas das linhas Diaclone e Microchange (ironicamente, Microchange era um derivado de Microman, que surgiu a partir dos bonecos de G.I. Joe), e inicialmente o plano era usar a ficção "original" de Diaclone.


Só tinha um problema: o material de origem era incompreensível, sem uma série animada ou quadrinho que contasse, só alguns livretos junto com cada boneco. Diaclone era sobre robôs gigantes feitos na terra, contra insetos e répteis robóticos do espaço - e eram robôs pilotados, para ver o quão diferente de Transformers o conceito era. Já a linha Microchange... Sabem o porque o Megatron de geração 1 vira uma arma? Ou o Soundwave um gravador? Os bonecos de Microchange eram em "tamanho real", e isso gerou algumas bizarrices em Transformers.

Esse cara.
A ficção de Transformers não veio do Japão. Não, ela veio de uma das maiores fontes de super-heróis e de ideias de gerico que deram certo no mundo: A Marvel Comics, a pedido da Hasbro. O responsável pela maioria dos personagens e dos nomes? O nova iorquino Bob Budiansky, que fãs da casa das ideias talvez conheçam também como o criador do Sonambulo, ou como o editor do Homem-Aranha entre 94 e 95. Budiansky já tinha um pouco do mythos de Transformers preparado anteriormente pelos editores da Marvel Jim Shooter e Dennis O'Neil - material rejeitado pela Hasbro, e que ele "consertou" em uma semana.

AKOM: Ignorando escala desde 1986
Mas a animação é japonesa, certo? Beeem... Sim, e não: a produção do desenho original ficou a cargo da Sunbow Productions, enquanto a Marvel preparava os roteiros. O design de personagem foi em grande parte do filipino Floro Dery, em cima da arte conceitual dos bonecos. De fato, parte da animação foi feita por estúdios japoneses, entre eles a Toei e a Tokyo Movie Shinsha. Mas também foi feita por vários estúdios coreanos, entre eles a infame AKOM. E se formos considerar como sendo um Anime por causa disso, bem, tudo em termos de animação é anime. Os Simpsons foi animado pela Toei; Batman The Animated Series, idem. Caverna do Dragão, também.

Um pequeno exemplo da ruindade da
animação de Energon/Superlink
Porém essa situação se aplica ao desenho original de Transformers, Transformers Animated, Prime, Beast Wars e Beast Machines (essas duas animadas e produzidas no Canadá). Robots in Disguise, sim, é um desenho japonês, enquanto a trilogia do Unicron é um caso nebuloso: Armada, Energon e Cybertron foram produzidas no Japão, sobre roteiros e conceitos feitos nos EUA (tirando Galaxy Force, que jogou fora tudo que a Hasbro mandava, aparentemente). Energon também sofre com animação muito ruim, com uma CGI vastamente inferior a de Beast Wars, seis anos antes.

O que há de séries japonesas de fato de Transformers? Headmasters, Masterforce e Victory se propõe como continuações de G1 (sem muito sucesso, diga-se de passagem). Headmasters se encaixa um pouco melhor no todo, mas as duas últimas são muito mais parecidas com Yuusha e super-robôs em geral do que com Transformers. Zone é um OVA francamente esquecível, e quanto menos se falar das continuações japonesas de Beast Wars, melhor.

Vilões incríveis como o cisto mágico, Devil Z!
De forma geral, as séries japonesas de Transformers são marcadas por piadas desnecessárias, humor juvenil, coisas sem explicação alguma, e no caso de Masterforce e Zone, vilões que nada tem a ver com Transformers. Para não mencionar deixar as personagens femininas ainda menos presentes (ou cortar elas fora, como fizeram com a Airrazor, tornando ela um guri). E pior, parte desses problemas se estendem as dublagens, como a quantia obscena de piadas sem necessidade na dublagem de Beast Wars. Os bonecos japoneses podem ser melhores, mas a ficção é pior, muito pior.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Coisas que não são anime: Ben 10

Bem, aqui começa mais uma série de artigos sem qualquer periodicidade, como "substitutos ruins" e "ideias idiotas (que deram certo)". Como todo mundo já deve ter notado, tem certos desenhos que otakus insistem em dizer que são animes - e o pessoal que odeia anime insiste em denegrir por "imitar anime", isso quando os otakus não fazem o mesmo. Não são raros os exemplos disso, indo desde verdadeiros clássicos da animação televisiva, como Transformers, M.A.S.K e - PASMÉM - G.I. Joe, até várias produções recentes, como Avatar: A Lenda de Aang, Teen Titans e o caso de hoje: Ben 10.



Sim, olhando "por cima", a estética de Ben 10 até parece tirada de animes antigos: não é precisamente uma coincidência que causa isso. Mas também não é uma tentativa de "copiar anime" que leva a essa similaridade. O que ocorre é que tanto Ben 10 quanto a "era de prata" da animação japonesa (por volta dos anos 70 e 80) bebem da mesma fonte: Jack Kirby.

Isso é perceptível antes de tudo - no nível mais na cara - no uso intenso de "Kirby Dots" em Ben 10: no fundo de todas as transformações, no título, nas sequências feitas em imagens estáticas (e que remetem aos velhos desenhos da Marvel, que eram desenhados pelo Kirby - e eram feitos com recortes dos quadrinhos, muitas vezes).

O próprio traço de Ben 10 tem muitíssimo mais a ver com o do Kirby (embora mais estilizado e menos "quadrado") do que com anime: a única coisa "anime" que há no traço são os olhos de alguns personagens, mas isso é um elemento que já dava as caras na era de prata dos quadrinhos - e que a animação japonesa tirou do Tezuka, que por sua vez tirou da Disney.

Mas também é uma influência notável no roteiro de Ben 10: a temática espacial, o jovem "inocente" que tem em mãos por acidente um artefato alienígena, o "homem comum" que se torna um herói temporariamente: todos temas bem comuns no trabalho de Kirby, e que seguem em Ben 10 todo o padrão do "Rei". O mesmo vale para a abundância de alienígenas em Ben 10, com designs bem inspirados nos vários extraterrestres das histórias do rei - e com tantas piadas toscas por trás do nome quanto nos quadrinhos Kirbyanos.

Se há algo com que Ben 10 mereça ser comparado, não é com a animação japonesa - da qual bebe da mesma fonte primordial - mas com os inúmeros desenhos e quadrinhos "menores" de Jack Kirby, como Thundarr, Os Eternos, O Povo da Eternidade, O Homem Máquina e Capitão Vitória e os Patrulheiros Galáticos. E acima de todos estes, Disque H para Herói, do qual Ben 10 praticamente é uma versão mais moderna - enquanto Ben tem um "relógio" que lhe transforma em vários heróis diferentes, sem muito controle, os vários protagonistas de Disque H tem o disco - que lhes dá várias formas diferentes, sem muito controle. A equipe por traz de Ben 10 - a Man of Action - nunca escondeu a influência de Kirby na série, ou no seu "sucessor espiritual", Generator Rex - e declaradamente visava recriar o estilo e o charme dos quadrinhos clássicos do "rei". Pena que as continuações foram tão fracas neste sentido. Então por favor, não chamem Ben 10 de imitação de anime, pois não é o caso.