Um sucesso imenso no Brasil nos anos 90, G.I. Joe é uma das linhas mais importantes para a história da indústria de brinquedos. Não sem motivos: É dela que veio o termo “Action Figure”, foram os Joes que começaram o longo processo de dar articulação para bonecos, e dela derivaram dezenas de linhas - seja por plágio, inspiração ou por reuso da engenharia dos Joes.
Falo aqui não dos Comandos em Ação, título brasileiro da linha mais famosa de G.I. Joe, “A Real American Hero”, mas dos Joes originais, de 1964, lançados aqui com o subtítulo “Falcon”, e na Europa como Action Man!. A linha inicial de G.I Joe - America’s movable fighting man contava com apenas quatro modelos: infantaria, marinheiro, piloto e fuzileiro naval. Ao mesmo tempo, conjuntos de acessórios e uniformes novos foram lançados, visando garantir o mercado antes dos imitadores.
O criador e a criatura. |
A linha projetada pela Hassenfield Brothers (hoje Hasbro. Então, primariamente uma empresa textil que lançava brinquedos educativos) surgiu como uma espécie de homenagem às forças armadas, e uma tentativa de atingir um mercado ignorado pela industria de bonecas: os meninos. A ideia veio do diretor criativo da divisão de brinquedos da empresa, Don Levine.
A ideia de Levine era lançar uma série de brinquedos representando membros das forças armadas, com multiplos acessórios. Dois fatores foram essenciais em transformar G.I. Joe no gigante que um dia foi. O primeiro foi a moratória que Levine impôs sobre o termo “Doll” (Boneca). Pesquisas de mercado demonstravam que meninos não comprariam bonecas, então dentro da Hasbro, estava proibido o termo; no seu lugar, foi criado “Action Figure”.
O outro fator foi de ordem prática. Enquanto todos os bonecos no mercado no início dos anos 60 contavam com cinco pontos de articulação (se tanto - ombros, quadris e cabeça), G.I. Joe se marcou por ser “super articulado”. Os bonecos originais da linha, projetados por Sam Speers, contavam com impressionantes VINTE E UM pontos de articulação, incluindo juntas nos calcanhares e nos pulsos.
Os quatro modelos iniciais foram relançados repetidas vezes, com alterações nos uniformes e acessórios. Em 1965, uma variante negra do soldado foi lançada, sem modelagem nova: tratava-se apenas do mesmo boneco moldado em plástico marrom. Em 1965 foi lançado o primeiro veículo da linha de 12”: um jipe do exército.
Os bonecos originais. |
A popularidade de G.I. Joe foi imensa, e entre 64 e 65, dois terços da receita da Hassenfield Brothers vinha dos Joes. Os bonecos foram licenciados para o mercado europeu para a Pallitoy, que os lançou sob o nome de Action Man, e para o mercado japonês para a Takara, na forma de Combat Joe. Tudo ia bem para os Joes.
E seu único veículo oficial - outros veículos foram lançados por empresas licenciadas, com menos detalhes |
Adventure Team
Os novos Joes: Adventure Team. |
Mas em 1969, G.I. Joe sofreria o primeiro baque: com o crescimento do sentimento anti-guerra causado pela Guerra do Vietnã, brinquedos militares não eram mais tão populares. Dependendo dos Joes para grande parte dos seus lucros, a Hasbro se viu forçada a reinventar a linha, como Adventure Team. Iam se os soldados, e entravam exploradores, mergulhadores e astronautas.
CONDOR e Torak: criações da Estrela. |
A nova linha trouxe inovações para a engenharia dos Joes. As mãos tinham “uma pegada kung fu”, os cabelos passaram de serem pintados para “cabelos de verdade” (e várias figuras contavam com barba) e o mais curioso, os aventureiros contavam com “olhos de águia” móveis (a mais rara de todas as articulações!). Foi dessa linha que surgiu o Falcon, lançado no Brasil em 1977 pela Estrela. A linha brasileira de inicio contava com apenas dois modelos (com barba e sem barba) contra os nove da original. Com o tempo vieram mais opções (incluindo dois moldes originais: “CONDOR, o amigo biônico do Falcon” e “Torak”).
Perto do final da linha Adventure Team, em 1976, vieram os primeiros bonecos “do mal”, os Intrusos, alienígenas que visavam dominar o planeta. Mas no ano seguinte a linha seria cancelada e dava lugar para “Super Joe”, uma linha de ficção científica com tamanho reduzido (caindo dos 30cm de G.I. Joe para cerca de 21cm). [
Do licenseamento, a inovação
Henshin Cyborg - a evolução japonesa dos Joes |
Na Europa, o “Adventure Team” permaneceu sob a alcunha de Action Man. Mas a licença repassada a Takara resultaria em uma das maiores inovações para brinquedos desde os Joes originais. A empresa japonesa aproveitou o caráter “modular” dos Joes (afinal, o boneco base era sempre o mesmo, salvo a cabeça) e inovou: a linha Henshin Cyborg trazia ciborgues de corpo transparente e cabeça cromada, que se “transformavam” em heróis da TV como Kamen Rider e Ultraman. Essa linha e sua derivação miniaturizada serão cobertas em mais detalhes em outra ocasião.
Mas a inovação viria em 1974. Interessada em lançar veículos para os ciborgues, a Takara encontrou um problema: os bonecos de 30 cm eram grandes demais para isso, especialmente com a crise econômica que afetava o país.
A base dos Joes dos anos 80: Microman |
A solução? Miniaturizar a engenharia e criar um boneco menor. A nova linha, com os mesmos detalhes visuais de Henshin Cyborg, tinha apenas 9,5 cm de altura, e segundo a ficção da linha, este era o tamanho real dos “Microman”*. A inovação da Takara não passou despercebida pela Hasbro, que tratou logo de fazer um acordo com a empresa nipônica, e reviveu G.I. Joe sob um novo nome e uma nova cara, no inicio dos anos 80. Sobre a qual leremos semana que vem.
A volta dos gigantes
Embora a Hasbro tenha abandonado o formato de 30 cm no final dos anos 70, houveram algumas revividas dos Joes “originais”. No começo dos anos 90, os velhos moldes foram ressuscitados para a breve G.I. Joe Hall of Fame, uma linha que visava atender os desejos nostálgicos de colecionadores e capturar a atenção dos fãs da linha moderna (G.I. Joe: A Real American Hero). A linha também contou com lançamentos baseados nos jogos Street Fighter e Mortal Kombat - mais especificamente, nos filmes de ambos.
Em 1996, os bonecos originais foram relançados com vários extras sobre a produção e o design dos brinquedos como parte da linha Masterpiece Edition. A coleção incluia livros sobre o nascimento da linha e reproduções dos documentos da patente de G.I. Joe.
No mesmo ano, foi lançada a Classic Collection, com um molde novo e melhor articulado. A coleção introduziu também os primeiros moldes femininos na escala 1/6 de G.I. Joe, as G.I. Janes. A linha contava com reproduções fidedignas de soldados americanos e ingleses da Segunda Guerra Mundial e de conflitos modernos, com séries limitadas representando diversas unidades. Edições limitadas incluiam também figuras homenageando “verdadeiros heróis americanos” como Buzz Aldrin, George Washington e Audey Murphy.
A penúltima ressurreição dos Joes 1/6 foi a Timeless Collection, de 1998, lançada apenas nas lojas FAO Schwarz. A linha contava com reproduções dos bonecos originais, e durou até 2003. Joes em escala 1/6 foram lançados como parte da coleção dos filmes, em 2009 e 2013 - mas enquanto os bonecos de 2009 eram essencialmente o mesmo que os clássicos, os lançados em 2013 contavam apenas com articulações no pescoço, ombros e quadris.
As figuras modernas em 1/6: simples, mal pintadas e quase sem articulações. Em suma, um retrocesso. |
Em 2014, como parte da celebração dos 50 anos de G.I. Joe, os moldes clássicos e de Adventure Team receberam mais um relançamento limitado, nas lojas Toys’R’US.
*Parte da linha Microman, a sublinha Microchange, foi reaproveitada pela Habsro em The Transformers.
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