quarta-feira, 25 de maio de 2016

Baú de Brinquedos: My Little Pony G1 e "G0"

Sim, eu vou falar dos pôneis malditos...
Já digo de cara: o desenho original era horrível.
Mas a franquia conseguiu piorar nesse sentido. 

Não importa qual a sua opinião sobre a encarnação atual da série e o histórico dela (ou seus fãs), My Little Pony está para a divisão de brinquedos para meninas da Hasbro como Transformers e G.I. Joe estão para a divisão de brinquedos para meninos. Assim como seus primos robóticos e seus tios militares, os pôneis contam com uma fanbase fanática, uma longa história de produção, mais reboots que um título da DC e uma briga eterna a respeito de qual linha é a "melhor".

Devido ao quão longa é a franquia, O Baú de Brinquedos tem que reservar mais de uma sessão para essa franquia tão odiada e tão amada. Preparem suas doses de insulina, porque a doçura certamente vai lhes causar diabetes. Hoje, a vez é da geração 1 e sua antecessora, My Pretty Pony. Hora de saber como o pesadelo de alguns e sonho de outros começou.


A origem - My Pretty Pony

A origem. 
Em 1981, a Hasbro lançou o que pode ser considerada a "zerésima" geração de My Little Pony: My Pretty Pony. O brinquedo foi projetado pela ilustradora Bonnie Zacherle em parceria com o escultor Charles Muenchinger, e era um boneco de 25 cm de altura de plástico rijo, com orelhas e cauda móveis e um olho que piscava. Como seria o padrão pelos próximos 35 anos, o equino contava com "cabelos de verdade" e uma escova para penteá-los.

Com o sucesso de My Pretty Pony, foi lançado My Pretty Pony and Beautiful Baby, que vinha com outro pônei "bebê", e dois relançamentos do original, em amarelo e em rosa. Essas duas versões vinham com estampas no flanco, que se tornariam a marca mor da linha que seria lançada no ano seguinte.


A linha

Twice-as Fancy Ponies. foto de UKpony.com
Em 1982, a Hasbro repaginou o conceito de My Pretty Pony com a primeira coleção de My Little Pony, os Pôneis terrestres.  Menores e mais coloridos que a linha original, os pôneis contavam com marcas específicas para cada personagem, nomes próprios e um esboço de personalidade. Os pôneis terrestres foram seguidos pelos Unicórnios e Pegasus. Dentro do universo ficcional, os primeiros tinham poderes mágicos e os pegasus... voavam. Por último saíram os Pôneis Marinhos, equivalentes a sereias para os fofos seres equinos. Todos os quatro tipos tinham personagens adultos e bebês.

Twinkle-eyed ponies: tão creepy
quanto a descrição sugere
Nos anos seguintes, os quatro tipos ganharam companhia: Flutter Ponies, mais magros e com asas de borboleta; Big Brother Ponies, maiores e feitos para parecerem cavalos da raça Clydesdale; So Soft Ponies, peludos; Twinkle Eye Ponies, com pedras no lugar dos olhos; Twice-as-Fancy Ponies tinham suas marcas pelo corpo todo, e Brush'n'Grow ponies tinham crinas e caudas que "cresciam". 

A última variedade dos pôneis saiu em 1989, as Dream Beauties, com maiores e proporcionadas como cavalos de verdade. Em 1991, com a linha em declínio, a Hasbro interrompeu a produção de todas as variedades exceto os Pôneis Terrestres. Essa decisão foi acompanhada por uma série de animação nova (coberta em outro artigo). 


Dream Beauties: um cavalo. Ponto. 

Além dos pôneis em si, haviam playsets (o mais infame sendo o Castelo dos Sonhos, que vinha com a primeira encarnação do dragão Spike, um dos únicos personagens presentes em toda a linha), personagens humanos, e animais "deixados fofos", como leões, girafas e zebras. Estes compunham a linha Pony Friends; acessórios, roupinhas, roupas de verdade e uma miríade de mercadoria para sugar tanto dinheiro dos pais quanto seus primos de Cybertron ou das forças armadas.  

O Castelo dos Sonhos.

Os pôneis na TV


Como muitas linhas da época, My Little Pony foi levada para a animação. Como de costume para a Hasbro, o trabalho coube à Sunbow Productions, subsidiária da agência de publicidade Griffin Baccal. Mas ao contrário de obras como JEM e The Transformers, de início os pôneis não receberam uma série de TV.


Eu vou dizer: ele parece ter fugido de uma série do Go Nagai.
Ao invés disso, sua primeira aparição animada era um especial de 22 minutos, Rescue at Midnight Castle, em 1984. Na trama, escrita por George Arthur Bloom, os pôneis de Dream Valley eram ameaçados pelo temível demônio-centauro-minotauro Tirek. Seus vassalos Scorpan e Spike estavam sequestrando pôneis, que eram transformados em dragões pelo poder o "arco-íris das trevas". A pégaso Firefly parte em busca de ajuda trazendo a menina humana Megan para o vale dos sonhos, para deter o terrível Tirek. Para um desenho para meninas, Rescue at Midnight Castle conseguia ser incrivelmente sombrio - Tirek ameça decapitar Spike por não seguir suas ordens, mesmo passando o "filme" todo em seu castelo o vilão é uma ameaça crível, e ao contrário de outras obras fofinhas da época (como Ursinhos Carinhosos) ele não é "redimido": pelo contrário, ele é feito em pedaços pelo poder do "arco-íris da luz" e explode.

Megan e suas amigas pôneis.
Esse especial foi seguido por Escape from Catrina, em 1985. Nele, Megan voltava ao vale dos sonhos para uma festa de suas amigas pôneis (nenhuma das quais tinha aparecido no anterior). As festividades são arruinadas pela bruxa Catrina e seu assistente Rep, que sequestram um dos bebês ponêis para usar como mão de obra (casco de obra?) para o refino de erva-de-bruxa. O que é erva de bruxa? Dorgas. Assim como Tirek, Catrina é uma vilã intimidadora em um desenho fofinho. Sua motivação é ainda mais egoísta que a média dos vilões dos anos 80: a única coisa que ela quer é sustentar seu vício. Assim como Midnight Castle, o especial sofre com fofura-acima-de-trama, negligenciando seus vilões - mais ameaçadores que muitos dos vilões de desenhos de ação na época.



No cinema



Em 1986, My Little Pony foi levado aos cinemas, em um roteiro de Bloom, com direção de Michael Jones. Como outros filmes da Sunbow, My Little Pony: The Movie contava com escalações que levantavam a pergunta de "quanto dinheiro eles devem?": a vencedora do Emmy Rhea Perlman, a duas vezes indicada ao Oscar Madeline Kahn e Danny DeVito. E como de costume, era um comercial de brinquedos descarado, com pouca ou nenhuma preocupação em contar uma história coesa.


O Smooze
Um fracasso de crítica e de bilheteria, o filme se centrava nas bruxas do Vulcão da Lamentação: Hydia e suas filhas Reeka e Draggle. Para provar sua maldade para a mãe, a dupla tenta arruinar o festival dos pôneis (que agora moram no Castelo dos Sonhos, porque brinquedos). Com o fracasso de suas filhas atrapalhadas, Hydia se volta para um plano mais cruel para destruir a felicidade dos equinos: criar o Smooze,  uma... gosma do mal que soterra o vale e transforma todos que ela toca em canalhas. Cabe a Megan e seus irmãos Danny e Molly salvar o dia, com a ajuda dos Grundles.


O filme aumentava os problemas dos especiais, focando em empurrar os brinquedos e em músicas adocicadas no lugar de qualquer tipo de narrativa. A maioria dos personagens eram intercambiáveis, e a única coisa realmente merecedora de destaque era o Smooze em si, mantendo o padrão de vilões ameaçadores no meio do mar de açúcar que era a franquia. A animação era perceptivelmente pior que os outros filmes animados da Hasbro: onde Transformers e G.I. Joe (que foi direto para vídeo) contavam com o trabalho da Tokyo Movie Shinsha, MLP coube à Toei e a Akom - infame por cortar pontas em tudo. 


Finalmente, uma série



Basicamente, um monte disso. 
O padrão dos vilões amedrontadores foi complemente descartado quando My Little Pony finalmente recebeu uma série de TV, My little Pony & Friends (Meu Querido Pônei, no Brasil). Com 65 episódios, a série contava com alguns vilões, mas a maioria dos seus episódios envolviam pouco conflito. A caracterização dos pôneis era ainda mais intercambiável que nos especiais, e o trio de personagens humanos podiam ser resumidos como "Quem resolve tudo, quem reclama o tempo todo, e quem comeu açúcar".


Os episódios tinham apenas 11 minutos cada, e várias histórias cobriam múltiplos episódios. Os outros 11 minutos de cada programa eram ocupados por um de três desenhos da Hasbro: Glo Friends, sobre insetos que brilhavam no escuro; The Potato Head Kids, do Senhor Cabeça de Batata, a única dentre as quatro séries do programa a focar em "slice of life" e Moondreamers, sobre meninas com cabeças enormes responsáveis por manter as estrelas e os sonhos.

E disso. 
Os especiais foram reeditados para encaixar no formato da série, e demonstravam algum empenho em serem mais do que só um comercial de brinquedos e um banho de açúcar. O resto da série, com exceção de alguns episódios mais sombrios, eram o típico besteirol condescendente feito para meninas, escrito por homens na presunção de que meninas são incapazes de pensar em qualquer coisa além de roupas, comida e fofurinhas. Como ocorria com outras séries da Sunbow, não havia consenso (ou contato) entre os roteiristas, e entre histórias a "ponyland" passava a ser parte do vale dos sonhos, ou o vale dos sonhos era um lugar na ponyland".

A dublagem brasileira da série, por sinal, é hilariamente ruim, gerando a incrível fala "O que vamos fazer, poneiland vai secar e explodir".



O declínio. 

A linha original de My Little Pony teve uma sobrevida maior do que a maioria das toylines da Hasbro, mantendo-se firme de 1982 até 1992. Após 10 anos de reprises e relançamentos, a Hasbro tentou reacender o interesse pela linha com uma série nova: My Little Pony Tales. Embora os brinquedos associados à esta série sejam parte de G1, o desenho é parte de uma continuidade separada, e será abordado junto com a segunda tentativa na linha de brinquedos, G2.

My Little Pony Tales não conseguiu recuperar o interesse infantil, no entanto, e a série minguou pelos mesmos motivos que Transformers nessa época: os fãs originais tinham crescido, e as tentativas de fazer com que recuperassem o interesse fracassaram. Enquanto isso, as meninas que estavam em idade de se interessar pelos equinos de plástico tinham brinquedos velhos das irmãs e primas. Com as vendas em queda, a franquia resistiu no mercado europeu (novamente, como ocorreu com Transformers), mas finalmente foi cancelada de vez em 1995.


Em 1998, a Hasbro decidiu reviver a franquia com um design novo, na chamada Geração 2 de My Little Pony, que será abordada em uma ocasião futura, junto com G3 e G3.5. E mais para frente, o bizarro fenômeno que foi a quarta geração da franquia, Friendship is Magic e seu ainda mais estranho spin-off Equestria Girls.

Nenhum comentário:

Postar um comentário