Há muito tempo, eu falei de um dos poucos super heróis negros que não levava “negro” no nome, o Senhor Incrível (Mister Terrific, em inglês). Agora retomo o tão parco tópico dos super heróis negros no mainstream de quadrinhos para falar do primeiro super herói Afro-Americano (e um dos primeiros super heróis negros), Sam Wilson, o Falcão (hoje, Capitão América).
Surgindo em Captain America #117, três anos após a criação do primeiro super herói negro, o Pantera Negra, Sam Wilson não surgiu como “astro principal”. Nos seus primórdios, era o coadjuvante do Capitão América, mas diferente de outros Sidekicks negros, abundantes na era de ouro, estava longe de ser um alívio cômico.
A roupa original, em verde e laranja. |
O primeiro herói afro-americano era tudo menos um clichê ambulante (e levava também o título de ser o primeiro super herói negro a não levar “negro” no nome). Sam Wilson era um reflexo da sua época: Criado por Stan Lee e Gene Colan como uma resposta aos movimentos civis do final dos anos 60, e uma demonstração da tendência da Marvel (à época) de estar na Vanguarda:
...No final dos anos 60, [quando notícias da] Guerra do Vietnã e dos protestos por direitos civis eram ocorrências regulares, e Stan, sempre querendo estar na vanguarda das coisas, começou a trazer essas manchetes para os quadrinhos...Um dos maiores passos que tomamos neste sentido foi em Capitão América. Eu gostava de desenhar pessoas de todos os tipos. Eu desenhei quantas pessoas diferentes eu podia dentro das cenas que eu ilustrei, e eu amava desenhar pessoas negras. Eu sempre achei suas feições interessantes, e tanto de sua força, espírito e sabedoria esta escrito em suas faces. Eu falei com Stan, como eu lembro, com uma ideia para introduzir um herói afro-americano, e ele aceitou de imediato... Eu olhei em várias revistas Afro-Americanas, e as usei como a base de inspiração para trazer o Falcão à vida” Gene Colan, em entrevista a Marvel, 2008.
A caracterização acumulada de Wilson conseguiu abraçar a identidade negra urbana dos EUA, sem fazer disso um caso de blackexpoitation. Samuel Thomas Wilson era filho de um pastor do Harlem, cujas experiências com o racismo o deixaram abalado e amargurado, e em choque após o pai ser morto apartando uma briga entre vizinhos. Dessa amargura vieram duas caracterizações diferentes: a criada por Lee e Colan, e a criada por Steve Englehart.
Origens divergentes
Originalmente, o personagem era um agente social farto da situação do país e que buscava remediar a falta de oportunidades para os jovens do interior de Nova York. O rapaz havia treinado um falcão (Asa Vermelha, nomeado cinco edições depois). A carreira heróica de Wilson (então sem nome) começa quando um grupo “em uma ilha nos trópicos” posta um anúncio buscando um falcão de caça. Descobrindo que os tais “exilados” eram neonazistas a serviço do Caveira Vermelha, Sam assume a identidade do Falcão, e com ajuda de Steve Rogers, libera o povo da ilha.
Capitão America e Falcão: a dupla dinãmica da Marvel |
O sucesso foi imediato, e o Falcão se firmou na posição que antes pertencia a James “Bucky” Buchanan Barnes. Entre 1971 e 1976, a revista chegou a ser rebatizada como “Capitão América e Falcão”. Mas enquanto Barnes era o típico “garoto prodígio” dos anos 40 - capturado com frequência alarmante, fonte inesgotável de piadas e mais inútil do que uma tocha debaixo d’água - Sam se firmou como um herói em seu próprio direito.
A essa altura, Sam Wilson havia deixado de ser o único super herói Afro-Americano, após a DC lançar John Stewart (que ganhou fama anos mais tarde graças ao desenho da liga da Justiça) em 1972,e a própria Marvel lançar Luke Cage, o Power Man, no mesmo ano. No entanto, continuava (e até hoje continua) uma minoria. Era um dos poucos heróis negros que não era “mano do gueto” ou “africano”, e um dos únicos que não falava ‘jive.
Até então, havia evitado com sucesso os estereótipos negros. Do uniforme original (verde e laranja), passara para a memorável roupa vermelha e branca, com um arnês de voô. O elo com Asa Vermelha se revelou telepático. O herói moldava-se de fato em um super herói, até que em 1975, sob a pena de Steve Englehart, a carreira impecável do Falcão sofria seu primeiro baque.
A essa altura, Sam Wilson havia deixado de ser o único super herói Afro-Americano, após a DC lançar John Stewart (que ganhou fama anos mais tarde graças ao desenho da liga da Justiça) em 1972,e a própria Marvel lançar Luke Cage, o Power Man, no mesmo ano. No entanto, continuava (e até hoje continua) uma minoria. Era um dos poucos heróis negros que não era “mano do gueto” ou “africano”, e um dos únicos que não falava ‘jive.
Até então, havia evitado com sucesso os estereótipos negros. Do uniforme original (verde e laranja), passara para a memorável roupa vermelha e branca, com um arnês de voô. O elo com Asa Vermelha se revelou telepático. O herói moldava-se de fato em um super herói, até que em 1975, sob a pena de Steve Englehart, a carreira impecável do Falcão sofria seu primeiro baque.
Englehart, por motivos que só ele mesmo sabe, decidira que Wilson precisava de uma história de origem nova. E que essa história tinha que reescrever tudo que se sabia sobre ele. Na trama, leitores descobriram que Wilson não era um agente social: era um gangster ao estilo do filme Super fly. Ao invés de ser enganado por capangas do Caveira Vermelha, Wilson foi parar junto aos exilados “a caminho de um negócio no Rio”, seu passado uma falsificação criada pelos poderes do Cubo Cósmico. O novo background não foi bem recebido (e é ignorado por todos).
De vingador a Capitão América
Daí pra frente, Wilson voltou a ascensão: tornou-se Vingador (entre 1979 e 1980) e retornando ao grupo permanentemente em 1998 (mantendo-se como personagem coadjuvante após a reformulação dos vingadores em 2004). Após a Guerra Civil, quando foi um dos líderes dos “Vingadores Secretos”, Wilson se torna responsável pelos super heróis no Harlem. A tentativa de Retcon de Englehart, embora oficialmente reconhecida, permanece como uma mancha vergonhosa na carreira do herói.
As diferenças entre Sam e Bucky foram um dos enfoques da temporada de Barnes como Capitão América |
Durante a excelente fase de Ed Brubaker escrevendo Capitão América, o Falcão voltou a uma posição de destaque após a morte do ícone, no final da Guerra Civil. Embora a revista então pertencesse a James “Bucky” Buchanan Barnes, Sam e e agente da Shield Sharon Carter tinham tanto destaque quanto o novo capitão América. A diferença de mentalidade entre os dois heróis e a maneira como o trio se relacionava com o legado de Steve Rogers gerou boas histórias - em particular lidando com o auto proclamado sucessor do capitão, William Burnside.
Na década seguinte é que viriam as grandes reviravoltas: depois de quase cinquenta anos como coadjuvante do Capitão América, Sam Wilson assumiu a posição em 2014. Infelizmente, logo antes do evento “Axis”, que viu vários heróis terem suas personalidades invertidas, e Sam se tornou a versão mais fascista do Capitão América (sim: mais que William Burnside). Ao contrário do Homem de Ferro, Sam retornou ao normal ao fim da história.
Com a reinvenção do universo Marvel em andamento após a nova Guerra Secreta, Wilson permanece como o Capitão América - até quando, não se sabe. Embora eu tenha problemas graves com a maneira em que Steve Rogers foi retirado da função (tendo o soro do super soldado drenado de seu corpo por um vilão nunca antes visto), Sam merece o cargo - mais do que Barnes, que há muito admitiu não ser apto a representar o mesmo que Rogers.
Outras Mídias
Enquanto isso, nos cinemas, o Falcão surgiu como coadjuvante do Capitão América em O Soldado Invernal. A atuação de Anthony Mackie se mantém fiel à essência do personagem (embora o altere de “agente social” para “veterano orientador de um grupo de apoio para Stress pós Traumático”), e assim como nos quadrinhos, mostra que não é necessário ser “gansgsta” para ser um personagem negro. O personagem teve aparições em Era de Ultron e Homem Formiga. Resta esperar para ver se ele será o capitão América nos filmes também. Mackie está confirmado para Capitão América 3: Guerra Civil, que terá também a estreia da versão cinematográfica de Asa Vermelha, um drone ao invés de um pássaro.
Já na televisão, Wilson deu as caras em várias séries animadas. Na comédica Super Hero Squad, foi dublado por Alimi Ballard, e servia como desastrado piloto de plantão da equipe, assim como o lembrete ambulante do Hulk. Fez parte da formação dos vingadores na abismal Avengers: United They Stand, dublado por Martin Roach. Também deus as caras em três episódios de Avengers: Earth’s Mightiest Heroes, dubaldo por Lance Reddick. Em sua curta aparição, Wilson estava sob controle mental do Caveira Vermelha. E como quase todo mundo da Marvel, fez uma ponta no Anime Marvel Disk Wars
Avengers Assemble: de braço direito do Capitão à novato fanboy de Tony Stark, |
Sua maior aparição televisiva foi em Avengers Assemble!, dublado por Bumper Robinson. Infelizmente, o maior papel que o personagem teve na TV foi menos fiel aos quadrinhos: aqui, Wilson é um agente da S.H.I.E.L.D. de 17 anos, um fanboy do Homem de Ferro, e sem nenhuma conexão com o Capitão América. Isso marca um dos maiores problemas da série: a tendência de atribuir aliados, feitos e inimigos de outros heróis ao Homem de Ferro (que também roubou o Caveira Vermelha como nemesis do Capitão). Essa versão do Falcão deu as caras também em Ultimate Spider-man.
Como parte da lista C da marvel e lentamente ascendendo á lista A, Sam Wilson teve algumas aparições em jogos de videogame: os jogos de LEGO da Marvel, os jogos de Super Hero Squad e o gigante da Disney Disney Infinity. Ele também apareceu como um personagem não jogável no MMORPG Marvel Heroes, como um aliado.
O primeiro herói afro-americano hoje tem mais força e mais destaque do que teve em quase toda sua história. Impactante o bastante para levar a revista a mudar de nome nos anos 70, hoje Sam é o protagonista de Capitão América. Nada mal para quem começou como um “segundo Robin” para o Sentinela da Liberdade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário