quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Baú de Brinquedos: O fim de Transformers G1



Faz um bom tempo já, eu fiz dois textos sobre duas fases muito importantes da primeira geração de Transformers. Primeiro, tratei do período pós-filme e os múltiplos *Masters que marcaram as tentativas de injetar fôlego na franquia na segunda metade dos anos oitenta. Depois olhei um pouco mais para trás, para as origens e a formação da franquia da Hasbro e da Takara. Os dois artigos se encerravam em 1988, pouco antes da sublinha que deu inicio ao fim de geração 1: os Pretenders.


Skullgrin

Lançados em 1988, o novo subgrupo dos Transformers era um sinal das mudanças que o mercado de brinquedos passava na segunda metade da década de 80. Onde o lema da franquia, “Robots in Disguise”, antes se referia aos modos alternativos (assim disfarçando o robô entre a nossa tecnologia), agora significava outra coisa: um robô literalmente disfarçado - como um monstro ou como um humano.


Longtooth, um dos Pretenders diminutos de 1989.
A coleção básica de Pretenders, composta por duas ondas de seis figuras cada (igualmente divididas entre Autobots e Decepticons) fazia uma estranha mistura do mote da linha (Robôs que viram coisas) e bonecos de ação à moda da maior ameaça encontrada pelas antigas empresas de brinquedos dos EUA: as Tartarugas Ninja da Playmates, mudando o foco do mercado de brinquedos de heróis militares e espaciais (uma herança do sucesso de Star Wars) para mutantes e guerreiros bombados..

Splashdown, um dos primeiros Pretenders. Foto do livro Transformers Generations.
Explico: Cada Pretender era composto por um robô (o “corpo real” do personagem) e uma Pretender Shell, uma figura humanoide (no caso dos autobots) ou monstruosa (no caso dos Decepticons) que se abria ao meio para abrigar o robô central. Um bocado menores que os bonecos anteriores, os robôs internos dos pretenders eram melhor articulados - mas menos “encorpados” que muitos de seus antecessores. Ao mesmo tempo, sofriam com alt-modes pouco convincentes.

Catilla, um dos "Pretender Beasts" - foto do site Seibertron.com
Os pretenders originais foram sucedidos por uma miríade de “outros” pretenders. As Pretender Beasts, de 1988, tinham formas alternativas e cascas animais. Já os Pretender Vehicles tinham cascas veiculares, com um leve elemento de transformação para servirem de plataforma de batalha para o robô interno.

Thunderwing: o mais famoso dos Mega Pretenders. Foto por David Willis


Os pretenders Clássicos, de 1989, atualizavam personagens antigos para o novo padrão. Em 1989, o padrão mudou para os pretenders “pequenos” traziam altmodes mais “realistas” às custas do tamanho e complexidade das figuras (comparáveis à linha Legends of Cybertron). Estes foram acompanhados pelos Mega Pretenders, cujas cascas se transformavam e se combinavam com o veículo do robô interno para formar um veículo maior, e os Ultra Pretenders, que tinham duas cascas - uma das quais dotadas de seu próprio modo alternativo.

Monstructor, o menor de todos os combiners. Foto de arquivo da Hasbro.


A última parte da coleção dos pretenders eram os Monster Pretenders, muito menores que o resto dos pretenders, os seis monstros tinham cascas de borracha e moldes simples, pouco maiores que um Micromaster. Além da casca, se destacavam por serem os únicos combiners em toda a sublinha, formando o podero (e diminuto) Monstructor, menor do que os Micromaster Combiners.


Os pretenders foram a última “grande” sublinha “universal” de Geração 1 antes do colapso da franquia.  A maneira como foram tratados e o que lhes sucedeu varia conforme o mercado, mas em todos os três grandes mercados de Transformers, os Pretenders marcaram o início da decadência da franquia, até Geração 2 reavivar a linha em 1993.


Nos EUA: dos pretenders aos Action Masters: Os transformers que não transformam.


No mercado americano, os Pretenders foram seguidos em 1990 - o último ano da linha - pelos Micromasters (de quem já falei antes) e uma das mais controversas tentativas de reinjetar folego na linha: os Action Masters, uma breve sublinha que muitos (erroneamente) culpam pelo fim de G1.



Mas o que eram esses Action Masters? Ouçam a ficção: Em busca de novas fontes de energia para os Autobots, Optimus Prime viaja para o centro de um buraco negro, onde encontra uma nova e incrível fonte de energia: Nucleon, capaz de ampliar os poderes e a velocidade de um Transformer a níveis nunca antes vistos - com um grave custo. Ameaçado pela nova força dos autobots, Megatron rapidamente desenvolve suas próprias fontes de Nucleon, criando seus próprios Action Masters e levando a grande guerra a um novo nível.

Soa interessante, não? Transformers, mais rápidos, mais fortes e mais poderosos que nunca! Só um pequeno problema: o tal “grave custo”. Sua capacidade de transformação. Em termos simples: os Action Masters eram Transformers que não se transformavam.

Action Master Devastator e seu parceiro, Scorpulator. Transformers Generations. 


Do mesmo tamanho que um G.I. Joe da linha A Real American Hero, os Action Masters eram figuras simples, com articulações nos ombros, joelhos e quadris, muito mais fieis aos modelos de animação (que frequentemente não remetiam em nada aos brinquedos). Além de um bocado de personagens novos, a linha trazia de volta vários clássicos - algo que, salvo pelos Classic Pretenders e o Powermaster Optimus Prime de 1988, não havia acontecido até então (enquanto hoje é garantia de se ter um Megatron e um Optimus Prime por ano).

Megatron e seu "Tanque de fusão".


Como havia a necessidade de um Transformer ter algum elemento de transformação, cada boneco vinha pareado com algum tipo de acessório transformável. Os bonecos básicos vinham com um animal ou drone robótico que se transformava em uma arma ou acessório; o segundo ponto de preço, Action Master Action Blasters, vinham com um veículo individual (como uma moto, helicóptero ou jato minúsculo). O próximo ponto de preço, Action Masters Vehicles, vinham com veículos maiores, para dois personagens, com uma forma alternativa (no caso dos autobots) ou a capacidade de se separar em dois (para os Decepticons). Já o preço maior, o Action Master Armored Convoy, era um caminhão gigantesco dirigido por ninguém menos que Optimus Prime, capaz de virar uma base enquanto sua cabine virava um jato pilotado por Optimus.

O Comboio Blindado do Optimus: Truckception. Imagem do livro Transformers Generations.
Em 1991, com vendas decrescentes desde 1988, a Hasbro subitamente cancelou a linha Transformers nos EUA, para revivê-la em 1993 como Generation 2.




Masterforce, Victory, Zone: o distanciamento da Takara


Metalhawk, o único Pretender exclusivo do mercado japonês. Foto por M Sipher da Tfwiki


Ao tratar dos *masters, eu mencionei o primeiro grande ponto de cisão entre a ficção ocidental de Transformers e a japonesa: Choujin Masterforce, a terceira série animada da franquia.  Masterforce se distanciava da narrativa previa da guerra entre Autobots e Decepticons; seu foco era, inicialmente, no conflito entre os Pretenders Autobots (liderados por Metalhawk, exclusivo da linha japonesa) e os Decepticons (liderados pela entitade alienígena Devil Z).

Super Ginrai. Tirado do livro Transformers Generations.


Mas em seu nono episódio, a série mudou de foco, com a introdução do verdadeiro protagonista, o caminhoneiro Ginrai. Com a introdução de Ginrai, o foco passou dos Pretenders para os Godmasters - humanos dotados de armaduras especiais que lhes permitiam combinar-se com Transtectors. Devil Z, por sua vez, tinha ao seu dispor a dupla de criminosos Mega e Giga, cujos transtectors se combinavam para formar o gigantesco Overlord. Compondo os dois lados, os Headmaster Juniors levavam crianças para o campo de batalha dos Autobots e Decepticons.

O catalogo "principal" de Victory. Faltando Victory Leo.


Masterforce foi seguida por Transformers Victory, com 44 episódios, possivelmente a série mais focada em Combiners da história da franquia. Simplificando o elenco, a série focava na luta do Brainmaster Star Saber contra o novo Imperador da Destruição Deathsaurus. Acompanhado de seu filho adotivo Jean Minakaze, dos Brainmasters e da poderosa Multiforce, Star Saber liderava os autobots contra Deathsaurus e seus Breastmasters (liderados por Leozack) e a epicamente estúpida Dinoforce. Cada uma dessas equipes era um combiner, e o próprio Star Saber se combinava com Victory Leo para formar Victory Saber. Star Saber seguia o mesmo padrão do Ginrai, de um robô pequeno que se combinava com um “trailer”, a V-Star, para formar um super robô, e que depois se combinava com um aliado para formar um super robô ainda mais forte - padrão que definiria a linha sucessora de Transformers, Yuusha.

O catalogo de Zone (com um resto de Victory).


Em 1990, Victory foi seguido pela última obra animada original de Transformers antes de Beast Wars, em 1996: Transformers Zone, uma animação direto para vídeo de meia hora, contando o início das batalhas dos três Powered Masters (Dai Atlas, Sonic Bomber e Road Fire) contra os “nove generais demoníacos” do maligno Violen Jiger. A linha de brinquedos contou com apenas com os três powered masters e vários conjuntos de Micromasters, e a precariedade da linha no mercado japonês fez com que Road Fire quase não fosse lançado. O resto de sua história foi contada em páginas de catálogos e no texto das caixas.

Star Convoy e o Micromaster Hot Rod: os últimos Primes de G1. 


Em 1991, com a linha em suas últimas, a Takara lançou em páginas de catalogos uma “continuação” para Zone, Return of Convoy, onde os “Battlestars” Sky Garry e Grandus traziam Convoy (Optimus Prime) de volta à vida como Star Convoy para enfrentar o “Emperador Supremo do Mal” Dark Nova e seu general: SUPER MEGATRON. A linha contou com três bonecos e 13 conjuntos de micromasters - além de dois itens cancelados.

Em 1992, a Takara deu um fim à linha Japonesa de Transformers com Operation Combination, uma linha composta por um misto de moldes europeus e combiners de G1, sobre a luta de um grupo de Autobots contra as forças do general deception Scrash. Essa seria a última coleção japonesa de Transformers até Beast Wars, em 1996.

Marvel, Reino Unido e Euro G1: Segurando as pontas


Em 1987, o desenho animado de Transformers foi cancelado após a minissérie Rebirth. Sem um corpo de ficção que segurasse a série, era inevitável que as vendas caíssem - e com o fim do desenho, somente os quadrinhos da Marvel desempenhavam esse papel. Escritos primariamente por Bob Budiansky até maio de 1989, em junho daquele ano, a Marvel via uma mudança de foco condizente com a que ocorria com a franquia.

Furman: o careca que manteve a franquia viva. Foto do site do autor, www.wildfur.net


No #56 da revista, o roteiro passava a ser do inglês Simon Furman, que já cuidava das histórias “de reserva” da revista no Reino Unido. Com um tom mais “épico” e “dramático” que o de Budiansky (que favorecia histórias mais “bobas”, como as que se viam no desenho), Furman foi fundamental em sustentar e dar corpo a franquia desde que começara a trabalhar com o título, em 1985, com a história “The Enemy Within!”

Enquanto Budiansky tratava o quadrinho como um título infantil (e fazia isso muito bem), Furman teceu seu próprio épico de ficção científica, construindo toda uma “mitologia” de Transformers, que fizeram da revista um imenso sucesso no Reino Unido e no resto da Europa.

Omega Spreem: um Transformer que não se transforma... que se transforma. MIND BLOWN. Foto de M Sipher


E como resultado desse sucesso, enquanto nos EUA a linha morria, na Europa Transformers encontrava vida nova em 1991. Os Action Masters ganhavam membros novos, incluindo os Action Master Elites- Incríveis Action Masters Transformáveis. Bonecos clássicos e os robôs internos dos Pretenders Clássicos eram relançados, e em 1992, o mercado europeu gerava todo um conjunto novo de Transformers.

Skyquake: o exemplo mor da estética da Euro G1. Foto de catálogo. 


Começou com os Predadores e os Turbomasters, de 1992: Enquanto os Turbomasters dos Autobots, liderados por Thunderclash, contavam com grandes motores que viravam lança-mísseis, os  Predadores de Skyquake contavam com um gimmick único: cada um dos integrantes menores da equipe vinha com um pequeno Slide para o “Mega-Visor” de Skyquake e Stalker. Os dois grupos introduziram o conceito de Light-piping, usando de plástico transparente para dar a ilusão de olhos brilhantes - técnica usada até hoje.

Clench: o Obliterador dos Decepticons. Foto de M Sipher.


Em 1993, foram 7 grupos: os Axelerators eram Carros Autobots cujos motores turbo viravam armas de mão. Seus rivais Skyscorchers eram jatos Decepticons cujos radares faziam o mesmo. Os dois Obliterators, Pyro (Autobots) e Clench (Decepticons), eram caminhões cujas caçambas viravam plataformas de armas. Os Aquaspeeders (autobots) e Stormtroopers (decepticons) eram carros com armas de água e tinta que mudava de cor. Por último, os Trakkons (‘cons) e os Lightformers (bots) tinham grandes plataformas de armas com visores que davam a ilusão de “lasers” sendo disparados no alvo.

Jetstorm (ou "Gobots"), um dos Aquaspeeders. Foto por M Sipher, aparentemente responsável por metade da wiki. 


Ao mesmo tempo, a linha contava com lançamentos podados de combiners japoneses e do Devastator, privados de seu kibble de combiner, e o período da “Euro G1” é marcada por uma estética “quadradona” combinada com cores horríveis - especialmente no caso dos predadores - e um uso intenso de adesivos. Quase todos os lançamentos da “Euro G1” foram relançados no final de 1993 e no começo de 1994 sob a égide de Generation 2, com logos devidamente mudados. Os avanços e a estética da Euro G1 definiram muito do começo de G2 - antes das inovações que essa malfadada era trouxe.

Ironfist, o campeão de K'un L'un um dos Lightformers. Foto por... M Sipher.


Com o cancelamento dos quadrinhos em 1991, os personagens que estrearam na “Euro G1” não tiveram participação na ficção de Transformers até 2010, com a minissérie Last Stand of The Wreckers, publicada pela IDW, com roteiros do britânico James Roberts e arte de Nick Roche. Em 1993, Transformers sofria sua primeira “grande” repaginação, Geração 2, mudando os logos, a identidade visual, o estilo de design de tudo, e recomeçando o quadrinho “do zero, só que não”. Desse período sombrio, falarei em outra ocasião.

Last Stand of The Wreckers: um resgate da Euro G1 .


Todas as imagens foram copiadas da TFwiki.

2 comentários:

  1. Respostas
    1. Valeu! Antes de entrar em G2, eu vou fazer um último artigo sobre G1, sobre todas as sublinhas focadas em gimmick que eu não cobri (tipo Firecons, Jumpstarters, duocons...), mas essa vai ser em formato de lista, indo da que eu acho pior até a que eu acho melhor. Fique de olho.

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