segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Millar: não compre quadrinhos digitais. Eu: qual o problema?

Eu não sou grande fã do roteirista Mark Millar, mas tenho que admitir que algumas vezes ele tem alguma razão: mais especificamente, a sua campanha de contra os quadrinhos em formato digital - exemplificada pela imagem ao lado, do seu blog - está parcialmente correta. Ressalto que eu sou a favor dos quadrinhos digitalizados - não tenho como adquirir muitos títulos que jamais seriam lançados no Brasil, e não vejo mais motivo para restringir o formato a mídia impressa.

Porém Millar está certo em uma questão bem simples: a proliferação de quadrinhos digitais com lançamento simultâneo ao impresso tem acelerado a morte das comic shops - uma questão que em pouco afeta o leitor brasileiro, eu sei, em vista da raridade destes estabelecimentos por aqui. E está é a única parte em que Millar está certo - embora a sua atitude na verdade não seja em defesa as lojas locais, e sim do seu conservadorismo retrogrado (quem está familiarizado com o trabalho dele sabe que isto é verdade).


Eis o comentário de Mark ao site CBR:

"I think digital could be a useful tool, but I'm increasingly concerned for friends in retail that they're going to get shafted here," the writer explained. "I really think day and date release is a disastrous idea and makes no economic sense at all to comics as a business. It's potentially ruinous for comic stores, and in the long term it's not going to do publishers any favors either. I see the attraction on a very superficial level. They think they're cutting out the middle men and all the guys taking a piece of their gross, but there's an equivalent number of hidden costs in digital too, and it's short term thinking to obliterate the life-blood of the medium.
Porém aqui faço questão de frisar que Millar tem razão em apenas um ponto: o de que os quadrinhos digitais estão matando as lojas tradicionais um pouco mais rápido - o comércio local de quadrinhos nos EUA está em queda já fazem alguns anos, e o e-business tem apenas acelerado o processo, não causado. Isso tem muito a ver com a crescente alienação das editoras com o público de base - as crianças - para focar quase que exclusivamente em colecionadores. De forma geral, o que Millar faz é tentar imputar os problemas das FLCS (Friendly Local Comics Stores) na venda digital - e demonizar a concorrência aos vendedores tradicionais. 



Também ressalto um detalhe importantíssimo: enquanto Millar tenta demonizar o formato digital com alegações de que seria apenas uma forma das editoras "cortarem o homem do meio" e aumentarem lucros, os principais aderentes da publicação digital são quadrinhistas independentes, que não teriam como publicar pelas vias tradicionais. As lojas de quadrinhos podem ser prejudicadas, mas a mídia como um todo está apenas ganhando através da digitalização - e ao contrário do que Millar faz aparecer, as editoras estão correndo atrás do formato digital, adotando ele com um atraso considerável: serviços como o ComiXology existem a mais de cinco anos, e apenas agora é que a publicação digital passou a ser simultânea com a impressa.

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