domingo, 15 de julho de 2012

Crítica: Duna (1984)

Como todo mundo já deve ter notado, o fato de um livro ser bom não infere automaticamente que as adaptações também o serão, e a ficção científica tem o maior registro de "adaptações cagadas" dentre todos os gêneros literários. (Eu, Robô? Starship Troopers? Dagon? A Sound of Thunder? Alguém?). Enquanto escrevo, Roland Emmerich - o rei do filme catástrofe - está preparando a certamente desastrosa adaptação aos cinemas da trilogia Fundação, e correm as filmagens do polêmico Ender's Game (que francamente espero que não seja mutilado pela adaptação). 

 Mas não estou aqui para falar do "geral", e sim de um caso muito lamentável: a adaptação pífia de Duna pelo produtor italiano Dino deLaurentis e o diretor cult David Lynch Alan Smithee, em 1984. E este não é um dos casos em que a falha está na falta de fidelidade: Se qualquer coisa, Duna tenta ao máximo ser fiel ao épico de Frank Herbert. O problema é justamente este: tentar comprimir um livro grande e muito complicado em um único filme - e sem introduzir o velho "como você sabe" para explicar elementos de cenário que no livro são dados na narração ou no glossário.


Em si, Duna não é um filme ruim: só é confuso e longo demais no caso das versões estendidas, e comprimido demais no corte original. Também é de maneira alguma um filme bom. Talvez a definição correta seja dolorosamente falho. A versão mais "completa" do filme se arrasta por duas horas e 54 minutos - o grande problema? As primeiras duas horas mal conseguem cobrir o primeiro terço do livro, forçando todo o resto a ser "espremido" em apenas uma hora de filme. E devido a complexidade do universo de Duna, o filme é constantemente interrompido por narrações para tentar explicar certas coisas, sem muito sucesso. 

Se qualquer coisa, Duna é a prova de que excesso de fidelidade é um problema tão grande quanto excesso de liberdades criativas - não apenas está preso a narrativa do livro de uma maneira até opressiva, mas em um sinal de falta de capacidade para adaptações, David Lynch Smithee parece atado a própria forma do livro. Cenas inteiras parecem copiadas linha a linha do livro, e a narração constante não é apenas maçante, mas também totalmente desnecessária. A abertura do filme gasta dez minutos para estabelecer o que é dito em apenas dois minutos do primeiro diálogo da trama. Junte isso a narrações do que está acontecendo, pensamentos óbvios dos personagens, flashbacks desnecessários, e o que se tem não é linguagem própria de cinema. Uma das poucas cenas em que foi tomada liberdade de adicionar coisas "fora do livro" é estranha demais para palavras. Digamos apenas que envolve um gato amarrado num rato, e fiquemos por isso.

O que é isso? Um navegador de terceiro estágio. O que é
um navegador de terceiro estágio? LEIA O LIVRO (e descubra
que não existem "estágios")
O universo de Duna é intricado, complexo e muito bem definido nos livros - enquanto isso, o filme não dá explicações de quase nada, e quando as dá, são incompletas, e oferecidas na sempre tediosa narração. Não há nenhuma explicação no filme do que é "normal" ou o que não é para o cenário, do que são Mentats ou Bene Gesserit, qual é a dos navegadores, ou a importância da especiaria ou sua ligação com os vermes, fora uma narração que existe apenas nas versões estendidas, e no caso da especiaria, uma conversa no começo do filme. 

E como um amigo meu colocou de maneira muito eloquente, Duna é a prova de que um elenco de atores bons não infere em um filme bom. Nomes como Patrick Stewart, Max von Sydow e Linda Hunt não fazem nada para salvar o desastre moroso que é a obra de David Lynch Alan Smithee, e a atuação oscilante de Kyle Maclachlan (no papel principal) junto com a canastrice constante de todos os Harkonnen - especialmente do músico Sting como Feyd Rautha - retira qualquer benefício ganho com o resto do elenco. Para não mencionar casos como Freddie Jones "murmurando" metade das suas falas, ou a decepção maior que é Patrick Stewart berrando constantemente.
Outras, é tudo azul e cinza.

As vezes é tudo marrom.
Nem visualmente Duna se justifica, com "defeitos especiais" - os escudos são o melhor exemplo, em uma cena até sobrepostos a parte errada do enquadramento - projeções de fundo mal feitas, cenários "pintados" e mais de uma vez usando de pinturas no lugar de algum enquadramento real. Uma pena, pois os conceitos por trás dos cenários e dos figurinos são bons, sobras de uma tentativa frustrada de levar Duna as telas, com arte do genial H.R. Giger, mas o resultado... Particularmente gritante são todas as cenas envolvendo os vermes da areia: quando é apenas o verme em cena, fica até bem, mas quando envolve qualquer outra coisa, o resultado é horrendo. A falta de contraste não faz nada para melhorar a situação, e mais de uma cena envolve caras vestidos de preto e marrom num fundo marrom atirando em caras vestidos de preto e marrom num fundo marrom - e reaproveitando as mesmas poucas cenas. 

Em suma: Duna consegue ser pior do que a Minissérie do Sci-Fi Channel, produzida em 2001.  E é simplesmente algo vergonhoso ser superado pelo atual SyFy. Com base em um clássico do gênero, um diretor de renome, e vários atores bons, Duna tinha tudo para ser um sucesso, mas resultou em um construto megalomaníaco, tedioso e incompreensível - tudo o que não poderia ser. 




4 comentários:

  1. Acho que você pegou demais no pé do filme, Duna é fantástico.

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  2. Cara, Duna tinha a produção de Dino DeLaurentis, desenhos de concepção do MOEBIUS...o livro eu curto muito... que fiasco que foi no cinema, quando era criança, achava que era porque eu era imaturo, bom, agora que to verde de podre, vi que era ruim mesmo e não a minha inexperiência para curtir algo mais sofisticado.

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  3. Filme horrivel, ridículo, parece um filme ee tertor da Xuxa. Sério, os caras se esforçaram muito para fazer um filme ruim.

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  4. O que me impressiona é que David Lynch (diretor competente) tenha feito essa merda. Só acho que o problema é que Duna não era esquisito o bastante pra ele. HAHAHA (brincadeiras à parte).

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