A busca pelo sentido do universo, o propósito da consciência, e o destino final da vida: esses são os temas centrais de Star Maker, de Olaf Stapledon. Publicada em 1937, a introdução da obra tenta avisar o mundo do perigo que se aproxima, da expansão do racismo, da intolerância e do autoritarismo, ameaças claras do seu tempo.
Narrada em primeira pessoa, a maior falha de Star Maker é a total ausência de diálogos; todas as conversas são implícitas, o que é de certa maneira compreensível, dado que a trama inteira é a viagem psíquica do narrador através da história do universo, relatando o desenvolvimento histórico, espiritual e mental de várias 'humanidades', culminando na ascenção do narrador à mente cósmica, uma entidade composta pelo gestalt de todas as mentes ascendidas do universo, e seu encontro com o criador, o Star Maker do título.
Duas coisas se destacam no livro : a primeira são os detalhes dados a cada 'humanidade' encontrada pelo narrador, começando com os estranhos "sapos-pombos-sei-lá-o-que" da "outra Terra", até arvores sencientes, "répteis" vivendo na superfície de estrelas, e nebulosas semi-conscientes. Em algumas dessas "humanidades", nosso narrador encontra compania em sua viagem e aptoteose. Em outras, a sua extinção ou degenaração chega antes que elas atinjam o intelecto necessário para manter contato telepático com outras espécies, e assim juntarem-se à proto mente cósmica.
A outra é triste visão do universo : todas as espécies estão fadadas a degeneração, seja antes de poderem juntar-se a mente cósmica, ou quando chegarem a tal nível que a manutenção de sua existência será impossível. E a mente cósmica tem o pior destino de todos : sofrendo uma morte lenta e dolorosa conforme o universo se torna menos inteligente, juntamente com o horror de saber que o criador não tem qualquer amor pelo universo, e que contáveis outros universos estão presos em um cíclo sem fim de sofrimento igual ao seu.
Ao mesmo tempo que é um livro belíssimo, Star Maker talvez seja a maior obra de "horror cósmico", colocando H.P. Lovecraft no chinelo. Se a idéia de um criador incapaz de sentir qualquer coisa pela humanidade é desconcertante, um criador que vê o universo como uma obra de arte falhada, e cuja emoção mais pervasiva é a crueldade é a própria essência dos pesadelos.
Numa escala de zero a dez, Stapledon merece definitivamente um dez.
Muito boa a dica literária, vou procurar o livro assim que sair do como alcoólico.
ResponderExcluirTem de graça em Epub no FeedBooks.
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